Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

FIM DE ANO – O tempo voa; os dias passam feito a revoada de um bando de andorinhas. E, tais quais nossas promessas, ele, o tempo, flui de modo inconsistente e sem nenhum propósito aparente para manter as aparências de nossa mal disfarçada existência.

O CORPO DECAÍDO – Quando a cabeça é fraca o corpo padece. Assim reza, com grande sabedoria, o dito popular. Seja nas mais elevadas esferas de nossa republiqueta, seja nos círculos de mesquinharias que nos avizinham cotidianamente; em todas elas o que vemos é o padecer de todos e o corromper de tudo devido à falta de solidez e altivez daqueles que estão à frente de algo; seja duma família, seja de nossa triste nação. As cabeças são muito fracas, limitadas e, por isso, o corpo social encontra-se desfibrado. E assim continuará enquanto as cabeças continuarem com seu olhar no mundo da lua e a extrair as suas ideias do fundo de uma latrina.

PRA NÃO CHORAR – No Brasil, ética não é uma disciplina filosófica não. É, antes de qualquer coisa, uma fonte inexaurível de piadas e causos para todos os comediantes. Sejam eles profissionais ou amadores, a ética brazuca nunca deixa os profissionais do riso na mão.

PERDA DE TEMPO – De nada serve a oferta de um conselho para resolução de um problema cujo ouvinte tem sua existência atrelada, dependente da manutenção da existência da encrenca.

NEM UMA PALAVRA – Há certas contradições que devem ser compreendidas para que a vida não degringole numa só tacada. É imprescindível que entendamos que muitos atos de aparente generosidade são corruptores e que, muitos gestos de certa crueldade são, ao seu modo, virtuosos.

Todo aquele que não compreende a verdade que está subjacente a essa afirmação não deveria dizer um “A” a respeito da tal educação.

Pois é, de mais a mais, vivemos falando, da boca pra fora, que não devemos avaliar nada apenas nos baseando nas tais aparências, mas, no quesito formação dos mancebos, esse é praticamente, o único critério: a aparente generosidade advinda de corações dissimulados.

Enfim, não é à toa que estamos seguindo pelo rumo que estamos.

O CÚMULO DO CÚMULO – O que realmente me impressiona não é tanto as atabalhoadas em torno da gestão da coisa pública nessa terra de Tupinambás. O que mais me deixa macedônia da vida é a incapacidade boçal daqueles que se apresentam como sendo as pessoas mais capacitadas para endireitar os rumos de nossa entristecida nação.

NA LINHA AMARELA – Deixe que o povo fale. Deixe que as ruas sejam tomadas por todos os cidadãos. Deixemos que aqueles que se apresentam como sendo as legítimas autoridades constituídas nada façam. Deixemos a nau brasileira seguir pelas atuais corredeiras só pra gente ver até onde todo esse forrobodó irá nos levar.

Goste-se ou não, a indignação do povo está no limite e o cinismo das autoridades já varou longe o seu e, cedo ou tarde, iremos descobrir o que há para além dessa linha amarela de nossa vergonhosa república.

NÃO É QUERER GORAR – O problema de se ficar abusando da paciência de alguém é que, cedo ou tarde, descobrimos o quão profunda e ferina é a fúria de quem estava apenas querendo ficar quieto sem ser molestado. Não é querer gorar, mas, não vai demorar muito para que nossa abusada classe política descubra o significado disso.

O PERIGO ESTÁ NO AR – É temível quando o medo ressentido toma conta da atmosfera duma sociedade. É temeroso porque o contágio da irá difusa pode ser desencadeado a qualquer momento por qualquer pequena e insignificante bobagem que seja dita, feito uma faísca num ambiente tomado por gás de cozinha. Enfim, essa é a atmosfera reinante em nosso país atualmente.

TREINANDO PARA A VIDA – Toda e qualquer prática, para ser devidamente aprendida e aprimorada, necessita de uma boa dose de treino. E, quando se fala em treinar algo, entenda-se que estamos falando de uma prática repetitiva e imitativa de modelos consagrados que foram realizados com maestria por outros.

Repetição essa que deverá ser realizada até a imitação perfeita da maior quantidade possível de modelos.

Aprender a cozinhar é assim: antes de inventar uma receita, aprende-se repetindo imitativamente as receitas que outros conceberam.

Aprender uma arte marcial também é assim: antes de criar o seu jeitão de lutar, se assim me permitem dizer, primeiramente é necessário imitar e repetir até a exaustão as técnicas que tradicionalmente foram cultivadas pela arte marcial a qual o indivíduo está se dedicando.

Pois é, no aprendizado de tudo é assim, porém, todavia e, entretanto, os doutos em educação que regem os descaminhos educacionais de nosso país na atualidade jamais pararam pra refletir que todas as suas doutas e furadas teses sobre o assunto ignoram soberba e olimpicamente esse dado fundamental da vida.

Não é à toa que estamos nesse desterro. Não é à toa mesmo.

(*) professor, cronista e bebedor de café.

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