“As pessoas ouvem que devem ficar isoladas, mas não entendem os motivos”, diz especialista
Tossir, espirrar, rir, gritar, falar… De acordo com estudos mais recentes, essas ações podem estimular o contágio por COVID-19, especialmente em lugares fechados e com pouca circulação do ar, como elevadores, ônibus e metrôs. Ainda que a comunidade científica confirme apenas a transmissão da doença através do contato com gotículas de saliva expelidas pela boca ou coriza nasal, as novas evidências, mesmo que incompletas, são suficientes para repensar os métodos de precaução adotados mundialmente.
Alguns cientistas afirmam que a transmissão aérea poderia explicar o alto nível de contágio da doença. No Brasil, tais resultados estariam ainda diretamente relacionados à população mais afetada pelo Sars-CoV-2. De acordo com pesquisa realizada pelo Grupo Fleury, Instituo Semeia, IBOPE Inteligência e Todos pela Saúde, o percentual de pessoas que se infectaram com o novo coronavírus na cidade de São Paulo chega a ser 2,5 vezes maior em bairros pobres (16%) do que em relação aos mais ricos (6,5%).
“As populações de menor nível de recursos e instrução estão se contaminando em níveis absurdos, por conta de aglomerações, uso de meios de transportes lotados e inadequados, falta de cuidados, entre outras causas”, explica dr. Álvaro Atallah, epidemiologista clínico e diretor da Cochrane Brasil. Segundo o levantamento, habitações com 5 ou mais pessoas, comuns em regiões mais pobres, apresentam soroprevalência quase duas vezes maior do que aquelas com um ou dois moradores.
De acordo com dr. Atallah, é preciso que as pessoas entendam o porquê do distanciamento social. Hoje, grande parte da propagação da doença se dá por infectados assintomáticos. Tendo em vista o potencial contágio pela expiração, o risco oferecido por esses indivíduos é ainda maior. “As pessoas não têm noção de que só estar em um mesmo ambiente com alguém contaminado já é uma ameaça. Isso explica porque elas se submetem a ir para festas e entrar em ônibus lotados, por exemplo”, afirma dr. Atallah.
Como se prevenir?
O especialista em Medicina baseada em Evidências ressalta a importância de novas medidas preventivas e dá algumas dicas:
- FaceShield: os itens de plásticos devem ser colocados no rosto para isolar os aerossóis expelidos pela fala.
- Máscaras: “A recomendação é utilizar duas máscaras: uma de plástico sobre uma de pano, protegendo bem a boca e o nariz”, explica dr. Atallah. As de pano devem ser colocadas na água oxigenada por dez minutos e esperar secar antes de reutilizar.
- Roupas protetivas: Utilize um jaleco ou casaco que possa ser esterilizado assim que chegar em casa.
- Preparação do ambiente: Busque manter o ar arejado, deixando portas e janelas abertas. “Isso é imprescindível para quem mora com muitas pessoas na mesma casa”, acrescenta.
- Distanciamento e isolamento social: Se puder, fique em casa. Caso seja necessário sair, tome todos os cuidados descritos acima, além de fazer a higienização correta das mãos com água e sabão e utilizar álcool em gel ao entrar e sair dos lugares. Evite contatos próximos com outras pessoas. Esterilize frutas, verduras e utensílios de cozinha em água sanitária – uma colher de sopa de agua sanitária para cada litro de água.
ESPAÇO MÉDICO
Paixão ou responsabilidade?
Casablanca (1942) é o filme escolhido para a próxima sessão do tradicional Cine Debate da Associação Paulista de Medicina (APM). Em 21 de agosto, às 20h30, os convidados debatem “razão, responsabilidade e paixão” a partir da envolvente trama. O filme, ganhador de três Oscars, conta a história de um americano expatriado em Marrocos que, ao ajudar refugiados na Segunda Guerra Mundial, encontra uma grande paixão do passado. Para viver esse amor, o casal enfrenta enormes desafios. Os participantes devem assistir a obra antes do debate para participarem ativamente da conversa dirigida por Bernardo Issler, professor de Metodologia Científica; Ezequiel Gordon, médico psiquiatra; e Wimer Bottura, coordenador do projeto.
Saiba mais e inscreva-se em www.apm.org.br
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