Por Bruno Zampier

1 – PROCURE LER OS MELHORES

A vida é curta e muitos são os livros disponíveis. É preciso ser seletivo. Se você escolher livros pela capa, pelo resumo na contracapa ou pela lista dos mais vendidos, corre o grande risco de perder um precioso tempo. É preciso buscar sugestões de pessoas que entendem do assunto. E não estou falando daquele amigo que lê um livro por ano e adora dar palpites. Estou falando dos grandes estudiosos e grandes escritores: eles costumam dar dicas valiosíssimas. Mortimer J. Adler é um deles: o educador americano criou a famosa lista dos Great Books of the Western World, os grandes livros da tradição ocidental. Aqueles livros cuja leitura é obrigatória para quem pretende educar-se a si mesmo e tornar-se uma pessoa culta. E para começar a mergulhar nos grandes clássicos, é fundamental você conhecer, antes de tudo, a literatura grega e latina antiga, bem como a Bíblia, o livro dos livros. Aí se encontra a base de todo o imaginário literário ocidental. É preciso começar pelos gregos Homero, Sófocles, Ésquilo, Eurípedes e Aristófanes. Depois os grandes latinos, Ovídio, Virgílio e Horácio. Para formar uma boa biblioteca particular, para você, sua família e seus herdeiros, adquira todos os livros sugeridos por Adler. Leia todos. Memorize os melhores trechos da Bíblia como o Salmo 23, Eclesiastes 3, 1Coríntios 13, e tantos outros. São mensagens de grande beleza poética e profundidade espiritual. Pouco importa se você é ateu: as grandes reflexões sobre a vida valem por si. E elas inspiraram Tolstói, Dostoiévski, Shakespeare e muitos outros.

2 – LER É COISA SÉRIA

Ler grandes obras literárias não é uma atividade para se fazer com a televisão ligada ou conversando com alguém aleatoriamente. É preciso ter um local e um horário para desligar-se da realidade concreta e mergulhar profundamente no universo imaginário do livro. Stephen King, dando dicas para quem pretende ser um escritor, diz que é preciso ficar em um quarto, sozinho e fechar a porta. Fechar a porta é importante, diz ele, pois “é o jeito de você dizer a si mesmo que o que vai fazer é coisa séria”. Penso que essa dica vale não apenas para escritores, mas também para leitores. É preciso ler com toda a potência da tua inteligência, linha por linha, parágrafo por parágrafo, página por página. Se o livro te dá sono, ou o livro é ruim ou você está fazendo corpo mole. É preciso ler com a mesma atenção com que você leria um contrato comercial cuja garantia é tua própria vida. Quanto mais consagrado o autor, quanto maior o clássico, mais fácil é ter a certeza de que o sono é a prova de que é você quem está fazendo corpo mole. Se Shakespeare e Dostoiévski te dão sono, você é um leitor medíocre. Cresça, melhore a si mesmo, aprimore sua inteligência.

3 – CRIE IMAGENS EM SUA MENTE

Literatura é um sonho dirigido, dizia Olavo de Carvalho. O escritor está induzindo você a imaginar um mundo, um personagem, um drama pessoal, um conflito, uma paisagem. Às vezes os elementos da história até são reais, como um país, uma rua ou até uma pessoa. Mas um livro não é um filme, que te apresenta a imagem pronta. É você quem precisa esforçar-se para projetar em sua mente aquilo que o escritor está descrevendo. Se ele disse que o personagem tem um nariz adunco, uma barriga saliente e sempre está com um cigarro pendurado no canto da boca, crie na sua mente a imagem deste homem. Toda vez que ele falar, andar ou comer, lembre-se dessa figura. Ler bem é viver a história, como fazemos nos melhores sonhos.

4 – AMPLIE SEU VOCABULÁRIO

Vivemos uma época em que as pessoas usam uma linguagem cada vez mais pobre e medíocre. As letras das músicas mais populares não possuem metade do vocabulário daquelas músicas de vinte anos atrás. E se recuarmos ainda mais no tempo, as músicas mais antigas (em português!) parecerão grego para muita gente. Poucas pessoas conseguem compreender uma frase qualquer do Hino Nacional. Portanto, se o livro que você está lendo nunca te apresenta palavras cujo significado você ignora, isso provavelmente significa que o autor tem uma linguagem tão pobre quanto a sua. Shakespeare, Machado de Assis e Tolstói serão mais desafiadores. Existem exceções é claro: Ernest Hemmingway tem uma linguagem muito simples. Sua riqueza está concentrada no poder de sua narrativa e na beleza de suas mensagens, como no inesquecível “O Velho e o Mar”. De qualquer maneira, um vocabulário mais rico oferece maiores possibilidades descritivas e narrativas. Quanto maior o vocabulário, maior a precisão no uso das palavras. Dizer que “a espada era prateada” não é tão preciso, e nem tão elegante, quanto dizer que “a argêntea espada…”. Na maior parte dos casos, os melhores escritores não hesitam em usar as mais raras palavras, porque normalmente estão expondo as mais raras impressões. Leia com um lápis na mão, sublinhe, circule e anote as palavras desconhecidas na última página do livro. Procure seu sentido no dicionário e escreva. Toda vez que pegar o livro novamente, antes de mergulhar na história, releia suas anotações na última página. Domine todas as palavras usadas pelo autor.

5 – MEMORIZE TUDO

Se você lê mas não lembra do que leu, então está perdendo seu tempo. Não passe para a página seguinte sem se certificar de que você compreendeu tudo que leu e, sobretudo, que não se esqueceu. Mantenha sua memória 100% ativa, acompanhando a história com toda a sua capacidade. Se o escritor dedicou um trecho da história para descrever um singelo vaso de flores sobre a mesa da cozinha, não se esqueça desse vaso quando o personagem estiver viajando para o outro lado do mundo ou enfrentando um poderoso dragão no reino das fadas. A memorização fica mais fácil se você conjecturar as razões daquele trecho: o que o escritor quer dizer? Invente hipóteses, imagine, crie conexões com outros trechos da história. Assim você vai captar muitas mensagens. Aliás, mensagens inesquecíveis.

Por fim, selecione os trechos do livro que você mais gostou: a descrição de uma paisagem ou de uma pessoa, um diálogo ou a reflexão de um personagem. Memorize frases ou mesmo parágrafos inteiros. Esses trechos serão a biblioteca da sua mente, sempre acessíveis, sempre disponíveis para fazer você lembrar de um conselho, de um sentimento ou de uma grande idéia. Algumas delas podem mudar o rumo da sua vida. Guardá-los na memória é uma forma de não viver a vida sozinho, mas na companhia dos grandes pensadores e sábios da humanidade. Se assim o fizer, logo você perceberá que se tornou mais capaz de refletir sobre sua própria vida, porque terá se tornado mais habilidoso em recontar a tua própria história, identificar os verdadeiros pontos de mutação, a grandes viradas que te trouxeram até onde você está hoje, bem como os grandes dramas que acompanham você e as pessoas que te cercam. Porque no fim das contas, toda a literatura, todas as grandes obras clássicas dos grandes gênios, são apenas instrumentos de treino, para te habilitar a ler melhor, como mais atenção e profundidade, uma das grandes histórias escritas por Deus: a tua própria biografia.

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