Será que todo mundo sabe a diferença entre o certo e o errado?

Algumas vezes penso que não.

A gente vê as pessoas fazendo com tanta naturalidade aquilo que nos foi ensinado ser errado que dá até um nó aqui no miolo.

Certas pessoas tentam relativizar e dizer que “depende”, pode ser certo ou errado, mas outras não há o que contestar, não tem jeito.

“Bom dia, o senhor está bem?”

*Oi, meu filho, tudo bem.

“Você não fala com ele?”

– Eu não é só o porteiro.

“Como assim é “só” o porteiro? É o porteiro do seu prédio, criatura, como você não fala com ele?”

– Você que é esquisito, fala “oi” até com as paredes.

Admiro grandemente quem não cumprimenta, quem ignora solenemente as pessoas que trabalham para deixar a nossa vida melhor, mais segura, mais confortável.

Como assim?

O que seria de nós e da nossa cidade se não fossem nossos porteiros, os lixeiros, varredores de rua, os motoristas de ônibus, padeiros, garçons?

O que seria da gente se todas as manhãs antes do sol nascer muitos deles não estivessem a postos fazendo seu trabalho?

Como seria se em cada restaurante que chegássemos tivéssemos que ir cozinha a dentro conversando com o cozinheiro para contar a ele o que queríamos comer e ter que procurar na geladeira onde fica a água com gás, simplesmente por que a profissão de garçom ainda não fora inventada?

`-Mas eu já fui assaltado em uma rua onde havia segurança paga, o porteiro já foi grosso comigo, um varredor de rua já quase passou a vassoura em cima do meu pé! E garçons, tenha dó, já vivi cada absurdo com garçons…

“Foram todos os porteiros, padeiros, garçons que de uma só vez que te fizeram as coisas que te desagradaram?”

Estou sendo chata?

É que acredito, sinceramente, que tratar as pessoas com respeito e delicadeza seja o certo, incontestavelmente.

E que isso traz, ao longo do dia, ao longo da vida, coisas boas para quem faz, coisas boas para quem recebe.

Tem outra coisa que também acho muito estranho.

Nesse ponto de repente você me deixe falando sozinha, afinal não faz a menor diferença pra você o que eu acho certo ou errado, mas juro que é só mais essa coisa.

Jogar papel no chão.

– Eu jogo mesmo. Se não tiver papel no chão não vai ter trabalho para o lixeiro.

“Engraçado, né? Joga papel no chão para garantir o trabalho do lixeiro, mas com o ganha pão do coveiro você não quer colaborar.”

Cara, dia desses assisti a um vídeo de uma pessoa jogando sacos de lixos lotados na enxurrada.

Como assim?

Quem joga papel pela janela do carro ou sacos de lixo na enxurrada está sujando o que, meu povo?

Acredito, sinceramente que não há como dizer que jogar lixo na rua pode ser relativizado, se certo ou errado.

Não há o que falar.

As ruas são uma extensão da nossa casa.

Elas também fazem parte do que é nosso.

– Mas todo mundo joga lixo na rua.

“Sua mãe te ensinou que você não é todo mundo!”

Em algum momento na vida é ensinado, ao menos uma vez, que se deve cumprimentar as pessoas, tratar bem àqueles que trabalham para deixar nossa vida mais limpa, mais confortável. Afinal, alguém te serve, mas você na roda viva da vida também serve alguém e gosta de ser bem tratado, acarinhado.

Alguma vez na vida, foi ensinado que jogar lixo na rua é colaborar para entupir os bueiros, assorear os rios, deixar a cidade com cara de abandono.

Todos fomos ensinados.

Nem todos aprendemos.

Algumas coisas são certas, outras erradas.

Não importa onde ou como fomos criados, educados, tratar bem as pessoas e colaborar para a manutenção da limpeza das nossas cidades é o certo, não há como relativizar.

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

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