Ontem ouvi um relato que me levou a refletir sobre a vida e o valor das experiências que vivemos. Descobri que artesãos japoneses restauram cerâmicas com trincas ou quebradas, por meio de uma técnica chamada de “kintsugi”(carpintaria em ouro), essa técnica consiste em reparar peças danificadas e frágeis com uma mistura de resina e pó de ouro, o que causou em mim muita estranheza, afinal, o costume ocidental contemporâneo é, jogar fora o que se quebra, substituindo-o por algo novo e moderno.

Desta maneira nos desfazemos, de móveis, eletrodomésticos, objetos de decoração, roupas calçados e por que não de pessoas.

É incrível ver que em poucas décadas, mudamos completamente a forma como tratamos as coisas, ainda me lembro de usar prego para concertar o chinelo na minha infância, vi por inúmeras vezes, minha mãe remendando roupas e meu pai fazendo gambiarra para manter a motocicleta funcionando, sinceramente, acho positivo o fato de nossa condição financeira atual, nos permitir substituir o quebrado pelo novo, no entanto, a história da cerâmica japonesa, levou-me a questionar, se não estamos extrapolando, se não estamos deixando, que essa forma de agir e pensar invada nossos relacionamentos e a maneira como nos enxergarmos.

O aumento nos índices de divórcio, nos mostram que talvez temos desistido de reparar o que está rachado, de adicionarmos algo tão valioso quanto o ouro nos casamentos, o perdão. O crescimento dos índices de suicídio, ilustram uma parcela da sociedade, que não reconhece sua importância, que desistiu de sua história, que vê nas rachaduras, algo irreparável, nos mostram mães, pais, amigos e filhos, que não aprenderam a cobrir as trincas com uma mistura valiosa de perdoar-se e dar-se outra chance.

É impossível passarmos pela vida, sem sofrermos avarias, o mundo a nossa volta nos arranha, desbota e muitas vezes nos quebra em inúmeros pedacinhos, nosso coração nos diz que não há uma saída, talvez as pessoas ao nosso redor não reconheçam nosso valor nem a nossa dor e talvez, nem estejam dispostas a nos ajudar a reparar  as trincas, mas existe alguém, que conhece a história de cada uma de nossas rachaduras, que vê o mais profundo de nosso coração e a escuridão que toma conta de nossa alma, não ignora nossas lutas, nem desconhece as injustiças pelas quais fomos submetidos, esse alguém foi capaz de se quebrar em inúmeros pedacinhos por amor a você, esse alguém ofereceu o que tinha de mais precioso, para concertar as rachaduras da humanidade caída, esse alguém é Deus, nosso Pai, que ofereceu seu único filho por amor a nós, que vê as nossas rachaduras, e possibilita que estas rachaduras tidas como feias e incapacitantes, nos tornem ainda mais belos e valiosos, que as cerâmicas japonesas.

Professora  Silvia Patrícia Marques – Mestra em Geografia, membro da Igreja Presbiteriana.

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