Lalalândia, esse mundinho tão fora da curva da realidade, é um lugar pra lá de engraçado, para não usarmos outros termos que, por ventura, possam causar enervamento nas almas sensíveis dessa desta terra que fica um pouco pra diante do “Reino tão…tão distante”, que ninguém nunca ouviu falar.

Nessa terrinha, não faz muito, houveram algumas mudanças na sua governança, fruto de conchavos e alianças inusitadas. Podemos dizer que, de certa forma, houve neste lugar uma revolução similar à revolução que ocorreu na fazenda do senhor Jones, da fábula “A Revolução dos Bichos” de George Orwell. Mentira. Não foi bem assim.

Na verdade, o que tivemos em Lalalândia foi apenas um arranjo eleitoreiro diferentão, entre os descontentes do grupo dos Vitelos e com os insatisfeitos do clã dos Guaxinins, para organizar uma “terceira via” e, deste modo, poder tomar posse da bagaça toda e remediar, da melhor forma possível, os seus descontentamentos [depre]cívicos junto ao poder público em nome do povo. Sempre em nome dele, é claro.

Aí, “sacumé” que são as coisas. Eles tomaram o poder e mal tomaram posse da galinha dos ovos de ouro da granja do erário e, do nada, a fábula toda começou a desmoronar. A intriga passou a ser a regra onde, sem muita cerimônia, Vitelos insatisfeitos puxam o tapete dos Guaxinins descontentes e, Guaxinins fulos tentam furar os zóios dos Vitelos coléricos.

Dá até a impressão que o vice e o titular rasgaram os baixeiros e que estão puxando a sardinha para braseiros diferentes. Um trem tão louco, mas tão doido, que até parece uma mistura de “Game of thrones” com “House of Cards”.

Mas lembremos, e não nos esqueçamos, que todas essas tramoias, que não podem ser expostas publicamente nesta crônica mal escrevinhada, são tramadas e tecidas sempre, sempre, em nome do bem-estar do povo lalalense.

E as conspirações correm soltas, à luz do dia, sem a menor desfaçatez. Praticamente em todos os cantos o assunto é um só: as brigas e picuinhas entre aqueles que, até a véspera, perante os olhos de todos, resolveram, de forma resoluta, tomar em mãos as rédeas da história para fazer a diferença nessa terra esquecida num canto qualquer do mapa da Terra Média.

Como havia dito, não há precisão de contarmos aqui as intrigas que rolam porque, em Lalalândia, todos sabem quais são elas. Cada uma delas. Seja nos botecos, nos salões de beleza, nas oficinas mecânicas, nos estabelecimentos comerciais, em todos os prados e ranchos basta perguntar a quantas anda a governança lalalandense que todos irão contar, tintim por tintim, um ponto e um bordado do que se instaurou entre nós.

Não me refiro apenas ao furdunço administrativo reinante. Sim, isto é um trem sério, não há dúvida alguma quanto a essa questão, mas há algo muito pior que as picuinhas e mesquinharias políticas acabam trazendo: é a perda da esperança estampada no semblante da população e a derrocada da confiança do povo naqueles que dizem, porque dizem, ter a solução para os infortúnios de Lalalândia. É triste, mas é assim mesmo que a banda toca, com ou sem gaiteiro.

Compreendo, perfeitamente, porque muitas almas imponderadas querem porque querem estar bem pertinho, bem juntinho do agito todo que é promovido em torno do palácio do Grão-Ducado de Lalalândia, da mesma maneira que entendo perfeitamente as razões socialmente engajadas, sussurradas pelo serafim zarolho, que levam muitos a moverem mundos e fundos, mais fundos que mundos, para estar coladinho na galinha dos ovos de ouro do erário lalalandense. Sim, entendo, mesmo sem compreender, nem aprovar, mas entendo.

O que não me entra na moringa é o fato de que aqueles que mais se beneficiam da galinácea dos zigotos áureos não procurem zelar da dita cuja, para o seu próprio bem e, de quebra, e por que não, de toda a população que, direta e indiretamente, a nutrem com o suor do seu rosto e com o fruto do seu trabalho expropriado através de tributos, impostos e taxas.

Agir assim, francamente, é uma baita insensatez. Sim, também é uma tremenda falta de ética, de decoro, de seriedade e de outras coisinhas mais que, ao que parece, não faziam e não fazem morada nos corações nem dos Vitelos, muito menos dos Guaxinins e, por isso, penso que não adiantaria coisa alguma exigir tais coisas dessas figuras. Francamente, seria perda de tempo.

Porém, todavia e entretanto, um cadinho de sensatez, um punhadinho de espírito republicano, uma pitada de zelo administrativo e duas xícaras de entrosamento entre interesses desencontrados para que entrem em sintonia para trabalhar um pouquinho em prol do bem comum, e não apenas para o bem de alguns, é algo literalmente igual, igualzinho, a tal da canja de galinha: não faz mal para ninguém. Pra ninguém mesmo.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

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