“É triste ver Reserva do Iguaçu sem crédito, sem negativas e com uma dívida de aproximadamente 11 milhões de reais”. Sebastião Campos

Por Nara Coelho

Sebastião Campos, prefeito pela terceira vez de Reserva do Iguaçu, conversa com o Fatos do Iguaçu sobre seus cem primeiros dias de mandato e afirma que sabia que encontraria uma prefeitura com problemas, mas que nunca imaginou que encontraria da forma que encontrou, com muitas dividas, maquinário e equipamentos sucateados e sem pode tirar nenhuma das negativas do  município devido à desatualização de cadastro e dívidas com o Estado e fornecedores.

Fatos do Iguaçu: prefeito Sebastião Campos, como o senhor encontrou a prefeitura de Reserva do Iguaçu?

Sebastião Campos: Encontramos a prefeitura com sérios problemas, entre eles a falta de muitos equipamentos, sem telefone, sem o sistema de internet e muitas dívidas sem negativas. A maioria do maquinário e veículos sem condição de uso. Convênios desaprovados e vários suspensos e a solicitação da devolução de verbas, devido o município não ter  comprido o  que lhe cabia. Confesso que sabíamos que a situação estava difícil, mas nunca imaginamos que estava no estado calamitoso e drástico que encontramos.

FI: Ao se deparar com essa situação seriíssima e grave, como você encaminhou seus primeiros atos administrativos?

SC: O primeiro passo foi recolocar e reintegrar os sistemas operacionais da prefeitura. Em seguida, fomos ao Tribunal de Contas, porque recebemos o  município sem estar com a sua prestação de contas de 2016 fechada, o que inviabilizava abrir o orçamento de 2017. Situação que ainda não está totalmente superada. Estamos em contato direto com o Tribunal de Contas. Estamos tendo que ir devagar, inclusive está difícil até para pagar as dívidas que a administração anterior deixou. Tivemos que abrir créditos, criar leis para ir resolvendo as situações mais emergenciais como a folha de pagamento de dezembro que a administração anterior não tinha pagado. Para dar inicio aos trabalhos mais efetivos, buscamos recuperar algumas máquinas e veículos que os estragos fossem menor e não dependia de muitos recursos financeiros para começarem a rodar e ter uma condição mínima de trabalho.

Estamos empregando nossos esforços em recuperar os convênios e superar o grande desafio de conseguir as negativas, que, a nosso ver, é um dos nossos maiores problemas, pois sem ela o município não consegue buscar novos convênios e recursos. Percebemos que neste momento especialmente a nível de  governo estadual, se tem recurso, mas o município fica sem direito a esses recursos devido à situação de inadimplência e falta de negativas que recebemos o município.

FI: Apesar de toda essa dificuldade, o município precisa caminhar. Como você está lidando com essa engrenagem engessada, mas que ao mesmo  tempo tem que realizar as ações do  dia a dia que cabem à administração municipal?

SC: Conversamos com o secretariado, com a equipe de frente e decidimos por priorizar, e nesse primeiro momento, a prioridade foi a saúde. Contratamos profissionais da área, pois o quadro estava totalmente defasado, já conseguimos reduzir a deficiência de medicamentos e dos exames. Fomos realizando ações que não dependiam de tanto recursos, demos uma boa limpeza na área urbana. Alguma atividade da secretaria de esporte já está ocorrendo. Colocamos em andamento alguns projetos. Na questão de estradas, atendemos as emergências, mas posso até dizer que dentro dessa situação já demos uma boa recuperada nas estradas. O transporte escolar, com muita dificuldade conseguimos colocar em circulação e estamos atendendo toda a rede municipal e os universitários. Inclusive, no transporte universitário estamos com um ônibus com busca e apreensão, que o município locou, com a previsão de compra no final. Esse ônibus, que vale aproximadamente 300 mil reais, foi alugado por quatro anos pela gestão anterior pelo valor de 722 mil reais. Outro maquinário é uma carregadeira, que foi adquirida na administração anterior de uma empresa do município de Palmas, e no mês de dezembro ela foi levada devido estar em busca e apreensão por falta de pagamento, inclusive já se havia pago 350 mil reais, que se torna um prejuízo para o município.

FI: Qual é o planejamento para 2017 dentro desse quadro complicado, desastroso que você encontrou?

 SC: Nossa prioridade até o final do ano será saúde, estrada e educação. Um dos nossos objetivos é resgatar o crédito do município, pois um número elevado de empresas não querem mais vender para Reserva do Iguaçu.

Estamos com um planejamento para desenvolver atividades voltadas para a agricultura. Como é difícil dentro desse quadro nacional de crise trazer indústrias para cá, pensamos que o melhor é investir na agricultura familiar, até porque é a agricultura encontrada na maioria das propriedades. A idéia é investir, qualificar a produção de alimentos. Como já temos no município um inicio do trabalho com a produção orgânica, queremos incentivar, ampliar esse setor da agricultura. Vamos apoiar as cooperativas e associações dos produtores, pois compreendemos que a produção de alimentos é uma característica de Reserva do Iguaçu. Queremos investir nas facções de costura, já tem algumas empresas interessadas em vir. Estamos trabalhando em cima do convenio da nossa super creche, a obra já está com 62% construída, mas parou, pois a obra  está desaprovada  pelo Fundo Nacional de Educação, estamos encaminhando a prestação de contas, que não tinha sido feita, vamos lutar para que as obras se reiniciem, porque ela é muito importante, ela desafoga nossa escola municipal, e vamos conseguir atender a demanda de 0 a 4 anos, que nesse momento não estamos conseguindo.. Vamos fazer a ampliação da nossa maior escola municipal, a Pedro Siqueira.  A idéia é realizar um concurso para suprir a defasagem de profissionais que estamos em várias áreas.

FI: Acompanhando seus primeiros meses de mandato, temos observado que você realizou algumas parcerias com os municípios vizinhos, essas parcerias fazem parte de um planejamento?

SC: Sim, consideramos as parcerias importantes e que ajudam muito a resolver problemas e diminuem custos, sejam por meio de consorcio ou outras formas possíveis. Já temos uma conversa iniciada com Foz do Jordão e Pinhão sobre a questão das agroindústrias, fizemos com Guarapuava e Pinhão o consorcio da patrulha agrícola para recuperação de estradas, com Mangueirinha, estamos discutindo  a questão de um aviário e na questão  do  turismo uma proposta de parceria com Candói, Pinhão e Foz do Jordão, a idéia com essas parcerias é enfrentar toda essa situação e buscar soluções e desenvolvimento para o  município e principalmente oferecer um serviço público de qualidade para a população  que mais precisa do serviço público.

FI: Como está o seu relacionamento com o legislativo?

SC: Já conversei com os nove vereadores e senti que a principio todos têm o pensamento voltado para o bem de Reserva do Iguaçu, temos trabalhado junto e até o momento todos os projetos tiveram aprovação de forma unânime. Uma amostra dessa preocupação foi a aprovação do projeto que criou a reserva ambiental, pois além da questão ambiental que é importantíssima, tem a questão da arrecadação do ICMS ecológico. Esse projeto já havia ido para a Câmara o ano passado e foi rejeitado. Esse ano retomamos o projeto de forma mais viável, econômica e com mais benefícios para o município, passaremos a ter a mais na arrecadação anual 900 mil reais e ele foi aprovado em unanimidade.

FI: Teu relacionamento com o Estado, como está?

SC: Temos conversado com o governo do Estado, temos tido uma boa parceria, o município vai receber nos próximos meses uma ambulância e uma van para a saúde, um caminhão de lixo, um carro para a policia e mais coisas devem vir assim que o município consiga regularizar as negativas. A nível federal, o município vai receber três patrulhas agrícolas, que vem por emenda parlamentar e vai nos ajudar na questão de apostar na produção de alimentos.

FI: Sebastião Campos, deixamos o espaço aberto para aquilo que você desejar dizer aos reservenses.

SC: Primeiro quero pedir paciência à população reservense, pois nós já sabíamos que a situação do  município não era boa, mas nunca imaginávamos que era tão ruim como encontramos. Então, todos aqueles projetos que sonhamos para Reserva do Iguaçu, provavelmente vão demorar um pouco mais, mas, se Deus quiser, vamos conseguir realizar. Então peço paciência, vamos estar sempre mantendo a população a par, vamos dar toda transparência possível para as questões financeiras da administração. Peço que todos compreendam e nos ajudem a tirar o município dessa situação, que com certeza é a pior que ele já esteve nesses últimos vinte e um anos de emancipação. É muito triste ver Reserva do Iguaçu, nessa situação, não tem crédito, não tem negativas e ainda tem uma dívida de aproximadamente 11 milhões de reais que a curto prazo é impossível pagar.

 

                       

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