“Vamos dar conta daquilo que é nossa atribuição, mas se a comunidade não fizer a sua parte, as coisas vão ficar pela metade”. Odir Gotardo

Por Nara Coelho

Odir Gotardo, prefeito pela primeira vez, fala ao Fatos do Iguaçu sobre os seus cem primeiros dias de gestão, conta com tranqüilidade sobre os entraves enfrentados, das boas surpresas e da importância de ter feito uma boa economia nesse primeiro trimestre da sua gestão

Fatos do Iguaçu: Odir Gotardo, sua gestão está completando cem dias, como você encontrou a prefeitura de Pinhão e como está sendo para você a experiência como gestor?

Odir Gotardo: Nos organizamos para assumir, buscamos realizar um planejamento, infelizmente, tivemos dificuldade em relação à transição, já que não tivemos acesso a informações importantes que facilitariam o inicio da gestão. Recebemos a prefeitura com uma dívida em torno de um milhão de reais, esse valor não tinha no caixa da prefeitura para ser pago. Vamos considerar como dívida a desestruturação da frota de veículos e máquinas, 70% da frota sem condição de uso. Outro problema sério que recebemos foi o problema do lixo, quando assumimos, o município já tinha recebido um TAC (Termo de Ajuste de Conduta), assinado pelo ex prefeito e já com prazos não cumpridos, e não havia onde depositar o  lixo, e esse era transportado de forma inadequada, que ainda continua até hoje. Outro problema sério e complexo que recebemos foram as escolas e postos de saúde com sérios problemas, precisando de reformas e reparos urgentes e as estradas em péssimo estado, dos 6 mil quilômetros de estradas do município, podemos dizer que nem 5% estava em condições razoáveis de serem trafegadas. E aqui tem uma dívida financeira, já que o investimento terá que ser imenso e o ônus da cobrança do impacto que isso causa na comunidade. Hoje ainda temos o transporte escolar, que não circula nem perto do que deveria, fizemos uma correria para dar conta do escoamento da safra e nós ainda temos linha de ônibus de transporte de passageiros que não estão restabelecidos, já que não temos coragem de exigir que a empresa cumpra o contrato enquanto não conseguimos oferecer estrada no mínimo razoável. Ele é grave e vai nos acompanhar por um tempo. Folha de pagamento com 56 % do orçamento comprometido, reduzimos para 54%, que ainda está acima do legal e vamos levar um certo tempo para equacionar, mas vamos equacionar. Por outro lado, estamos com deficiência de pessoal em vários setores da administração, na educação, isso é serio, é tão serio que quase adiamos o inicio das aulas pela falta de profissionais, de ônibus para o transporte escolar. E até hoje ainda estamos levando isso no limite extremo.

FI: Odir, como está sendo a experiência de administrar o município, é como você imaginava ou você teve algumas surpresas?

OG: Tive várias surpresas boas, que foram para além das minhas expectativas. Entre as surpresas boas está o grande número de servidores dispostos a trabalhar, a maioria dos servidores compreenderam a nossa proposta e isso é fundamental para que as nossas ações se concretizem.  Outra boa surpresa foi a relação que estabelecemos com o governo do Estado, por não sermos da base de apoio do governo do Estado, imaginávamos que haveria dificuldades em relação a isso, a relação com os deputados da região foi bastante intensa, inclusive deputados da base do governo têm servido de interlocutores. Até aqui tem sido uma relação tranqüila, respeitosa, os interlocutores do Estado compreenderam que estamos aqui para fazer uma coisa bem feita, preocupados com uma boa administração, e dentro do razoável, eles têm sido bastante solícitos em tudo que a gente tem encaminhado, esperamos poder aprofundar isso.

Não tivemos surpresas negativas, encontramos entraves, que dificultaram a velocidade maior que queríamos dar às ações. Temos angustias, a equipe toda está angustiada porque esse período é um período de estruturação extremamente trabalhoso, dispendioso, inclusive do ponto de vista financeiro., e pensamos que isso tudo seria mais rápido, mas o processo  licitatório, por mais simples que seja, exige muito cuidado, tem muito detalhes, muitas regras, inclusive, estamos tendo  que mobilizar os fornecedores, pois o comércio local não acreditava mais no processo licitatório do município.  E temos recuperado essa credibilidade. Não teve grandes surpresas porque fizemos um planejamento emergencial para esses primeiros três meses e considero que cumprimos ele com bastante intensidade. O saldo desses cem primeiros dias foi positivo porque conseguimos fazer uma boa fundação, alicerçamos a nossa gestão, e claro, somos cientes que esse alicerce não aparece, mas nos preocupamos que ele fosse bem firme para suportar o que vem pela frente. Foi uma fase importante, acertamos bastante em algumas coisas, tivemos dificuldade, erramos e fomos revendo , mas penso que foi um período intenso e de muita produção,

FI: O inicio do seu governo foi marcado pela palavra economia, você conseguiu atingir seu objetivo nesse ponto?

Nós conseguimos fazer uma boa economia, que nos dois primeiros meses girou em torno de 4 milhões e meio de reais. Isso nos permitiu pagar a dívida que herdamos, alguns empréstimos que estão vencendo, que é do ultimo asfalto que foi feito, pagamos duas parcelas de 250 mil cada uma, e assim conseguimos fazer um caixa para fazer as compras públicas necessárias para reestruturar a frota. Essa economia que fizemos não é para guardar, esse dinheiro tem um destino e o destino está logo ali, que é pagar as aquisições que precisamos fazer para reestruturar a capacidade do município em prestar o serviço. Temos que fazer pequenas reformas nas escolas, estradas que ainda estão muito desarrumadas. Para conseguir fazer o trabalho e um trabalho de qualidade. Comprar o produto que recupera o asfalto, que por sinal já fizemos duas licitações e deu deserta, por isso os buracos continuam. Na área da saúde, estamos reestruturando as equipes para atender as unidades de saúde, pelo chamamento do concurso, vamos conseguir recompor as equipes dos programas da assistência social. E isso tudo é possível por conta da economia que fizemos. Esses primeiros meses, com certeza foram para nós de aprendizado, agora vamos definir os programas que serão prioridade e vamos começar a encaminhar eles. No dia13 de abril vamos declarar ponto facultativo, vamos aproveitar e reunir o secretariado, o quadro comissionado as direções dos partidos que compõem a aliança, os vereadores que compõem a base e aliados para fazer um planejamento bem feito, agora de execução do governo, vamos planejar, até porque até lá já teremos também o resultado da arrecadação e economias que fizemos no mês de março, planejar as ações por secretaria, a ideia é planejar no conjunto para que todos conheçam o planejamento no conjunto, é preciso que todos conheçam as prioridades de todos, assim se qualifica e se articulam as ações públicas. Conseguimos criar um clima de harmonia e cooperação entre as secretarias. E vamos aprofundar com o planejamento conjunto para não haver desperdício de estrutura. Dinamizar, planejar para utilizar da melhor forma possível a estrutura pública e para mim, que vou coordenar todo esse trabalho, permite que eu consiga acompanhar e intervir, quando necessário, com muito mais capacidade de gerenciamento.

F!: Ter sido eleito presidente da Cantuquiriguaçu é um ponto positivo em relação a sua gestão?

OG: Sim, pois num certo sentido nos traz um certo status, quando  vou a Curitiba, nas diversas secretarias do Estado, mesmo quando  é para tratar de assuntos apenas de Pinhão, o  tratamento é diferente, pois não é  o prefeito de Pinhão  que está chegando, mas o presidente da Cantu, assim nos favorece um melhor acesso ao espaços do governo. Sem contar com o aprendizado que a gente tem ao ter contato com os outros municípios, toda semana temos equipes nossas indo a outros municípios para conhecer experiências, e descobrimos essas experiências pela nossa participação na associação, nos espaços da Cantu.

 FI: Como está se desenvolvendo o seu relacionamento com o legislativo?

OG: Ainda precisa ser melhorado, ampliado e construído, sempre disse que  respeitamos profundamente a independência entre os poderes, isso é um principio republicano. Isso não quer dizer que eu concorde com todas as posições do legislativo. Posso discordar, mas tenho que respeitar a posição de cada vereador. Eu tenho que constituir uma maioria, por hora temos construído isso em cima de questões muito pontuais, mas precisamos aprofundar isso na Câmara para que possamos ir para questões mais amplas.Tanto nós do executivo como do legislativo, devemos nos pautar por aquilo que é bom para o município. Pois do mesmo modo que a comunidade tem uma expectativa em relação a nós, também tem em relação ao legislativo, é grande, e a expectativa da comunidade é que se trabalhe pelo  interesse real da comunidade. A gente vai construir essa relação com muita tranqüilidade, tenho a vontade de construir uma relação com o legislativo sincera, que seja bom para o interesse público, não tenho nenhuma preocupação em enfrentar a diversidade do debate, porque a diversidade de pensamento  é que nos permite refletir sobre comportamento e sobre as ações que queremos desenvolver para atender os anseios da comunidade.

FI: Já nos teus cem dias de governo você assumiu dois grandes eventos, a Festa do Pinhão e o Jarcans, por que?

OG: Vamos dar conta dos dois, a Festa do Pinhão enfrentamos algumas dificuldades, porque queremos fazer tudo com economia, se nós colocássemos 150 mil na Festa, estaria tudo resolvido, vamos fazer uma festa adaptada ao momento econômico, aos princípios que originaram a Festa do Pinhão. Vamos proporcionar um espaço legal para as pessoas levarem suas famílias para se reunirem com os amigos, e tudo a custos acessíveis à comunidade, não adianta fazermos uma festa bonita se os pinhaõenses não puderem  usufruir, queremos que os visitantes venham, mas primeiro que a comunidade do  Pinhão vá na festa. O Jarcans tem uma dinâmica muito própria pré estabelecida, e nós temos que oferecer uma estrutura mínima de acolhimento, hospedagem, de prática esportiva, tenho certeza que nós não vamos ter dificuldade em oferecer essa estrutura. Além desses eventos, teremos ainda esse ano um campeonato de pesca em setembro, o encontro anual que é realizado pela Cantuquiriguaçu em parceria com a Emater e Sebrae sobre agroindústria. Daremos a dedicação e a qualidade necessária para que eles aconteçam a contento.

FI: Odir, o que você gostaria de dizer para a população nesse momento?

OG: Quero dizer duas coisas, primeiro pedir paciência, porque as coisas estão acontecendo, muita gente já está com uma estrada melhor para chegar na sua propriedade, na escola, para escoar sua produção e vem nos parabenizar, mas muita gente ainda não, a esses pedimos paciência, como pedimos paciência ao servidor que está trabalhando sem muitas condições, sobrecarregado ou com maquinário precário, mas está tentando dar seu melhor, pedimos paciência a eles porque vamos estruturar, modificar essa situação. Aqui na cidade, ainda não conseguimos chegar aos bairros, mas vamos chegar, o próprio atendimento à saúde começou, está andando, mas tem programas que ainda vou pedir mais um pouquinho de paciência, vamos resolvendo, arrumando pra chegar esse atendimento, na assistência social temos muitos pedidos que não conseguimos atender, tem programas e projetos que ainda não estão funcionando como a gente quer que funcione, na educação infantil, tem muita criança fora por falta de vaga, tem alguns funcionando  de forma precária, então pedimos paciência porque temos consciência que ainda não  alcançamos boa parte do nosso objetivo, não tenho nenhum problema de justificar  diante de toda a situação que já coloquei nas questões anteriores. Outra coisa que eu quero pedir para a comunidade, é que se mobilize no sentido de contribuir com debates, sugestões, estamos reestruturando progressivamente todos os conselhos municipais. Criou-se uma boa expectativa em relação à reestruturação do conselho urbano,  é um espaço importante potencializar a participação das associações de moradores das entidades de representações dos cidadãos. Peço que as pessoas se disponibilizem a participar desses espaços de diálogo da comunidade conosco para nos ajudar, nós temos ainda uma demanda muito grande na área de urbanização, de habitação, saneamento, do lixo, que é um problema gravíssimo e oneroso para o município.  Queremos pedir que fiquem atentos, nós estamos aos poucos desenvolvendo um programa de separação domiciliar do  lixo, queremos muito que as pessoas nos ajudem a fazer essa separação. Vamos precisar muito  da comunidade para darmos uma arrumada na estética da nossa cidade, há coisas que cabem ao poder público, mas a que compete aos cidadão, precisamos que as pessoas cooperem, temos muitos lotes vagos no centro da cidade que comprometem a estética, a saúde e a segurança pública. Que as pessoas comecem a pensar no município não só como obrigação da prefeitura, mas ver o cuidado com ele como uma obrigação de cada um, o poder público vai intensificar muito suas ações para dar conta daquilo que é sua atribuição, mas se  a comunidade não cooperar e não fizer a sua parte, não adianta, as coisas vão ficar pela metade. Para juntos tornar Pinhão melhor, mais organizado, bonito criando perspectiva de renda e emprego e agradável de viver .

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