EDITORIAL

Identidade

Identidade é para a psicologia um conjunto de traços e caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa, o que a torna única. Perder a identidade é perder-se de si mesmo. Mesmo hoje a população sendo formada por mais de sete bilhões de pessoas, cada indivíduo é único.

O que de imediato identifica cada indivíduo é o seu nome, dentro dele está contida toda a identidade de cada ser humano. Assim,ouvir uma senhora de mais de oitenta anos dizer que não sabe mais o seu nome, causa espanto e reflexão e quando ela complementa,“Pois já recebi tantos apelidos, que o nome se perdeu na caminhada, entre os apelidos está preta, velha preta, sem-terra, vagabunda, quilombola”.

O espanto vira tristeza, a reflexão se amplia e vem a pergunta, somos cada um, um, somos únicos, mas somos todos seres humanos, então porque uns se sentem no direito de achar que são mais, que a luta e valores do outro é menos que a sua? De onde vem tanta arrogância? Além da identidade pessoal, existe a identidade cultural que são os traços que são comuns a um grupo de pessoas, seja pela crença, pelos costumes, pelo território que habitam ou pela luta que realizam.

Nesse caso se enquadram os quilombolas do Paiol de Telha/Fundão.No entanto, também a identidade cultural de um grupo muitas vezes pela arrogância, orgulho e ganância do dito ser humano é desconsiderada, é negada, é desqualificada, é inclusive buscado colocá-la na obscuridade

. Novamente o peito fica apertado ao ouvir de uma jovem senhora que receber o primeiro título de uma pequena área do todo do território é momento de felicidade porque rompe com a invisibilidade, porém muitos morreram na invisibilidade. “Hoje passamos a ficar visível, a ter visibilidade, hoje chegou a nossa identidade oficial”.

Para eles é momento de conquista. Mas faz pensar: porque um povo, um grupo de pessoas precisam ter o título de uma propriedade para serem vistos e respeitados como pessoas?Ficam inclusive algumas perguntas latejando na cabeça, será que de fato os negros já saíram da invisibilidade no Brasil?

Será que algum dia as pessoas vão admitir que houve escravos e muitos nessa região?Será que seus descendentes independentes, se são quilombolas ou não, de fato são visíveis e reconhecidos por seus nomes ou por seus apelidos de negrinhos, pretinhas entre outros?

Outra frase que martelou o cérebro foi, “Para nos escorraçar, tomar de nós foi rápido, foi a golpe de foices, mas para devolver é de punhadinho”. Pois nessa frase está a certeza que a injustiça é traiçoeira, rápida e ágil, já a justiça é vagarosa, lenta e cuidadosa.

O ser cuidadosa é fundamental, pois não se pode cometer injustiças em nome de se fazer justiças. Contudo é essencial que a justiça não se confunda ou se ofusque com o brilho que vem do ouro que brilha na mão dos grupos que mais que visíveis, são grandiosos, poderosos, até porque quiçá todo esse brilho e poder não foram muitas vezes conquistados com o sacrifício dos povos “invisíveis”.

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