Editorial

Pequenos, mas perigosos 

Setembro é amarelo, infelizmente, não por causa da beleza dos ipês amarelos mas, para alertar as pessoas sobre o suicídio. O número tem crescido na mesma proporção que os estudos mostram que ele pode ser prevenido, evitado. Quando se conversa com as pessoas que tentaram, e para a felicidade da humanidade, não conseguiram, elas geralmente dizem que a idéia não é morrer, mas acabar com o sofrimento, com a dor ou angústia que estão sentindo. Assim, pode-se afirmar que uma das prevenções para evitar o  suicídio é o amor, a compreensão, o diálogo, o respeito às escolhas de cada um e a dor que cada qual traz em si. Mas, aqui, na verdade, a idéia é falar dos pequenos gestos, atos e escolhas que as pessoas vão fazendo no seu cotidiano. Algumas são por não se cuidar, o colesterol está alto, a diabete lá em cima, mas as pessoas não se cuidam, não vão ao médico, não abrem mão dos alimentos nocivos à sua saúde. A idade chega e o sobrepeso vem junto, mas a pessoa não se incomoda, não se preocupa com as dores pequenas que vem com excesso de peso ou a pequena dificuldade para dormir, caminhar e até respirar, como é coisa pouca, porque buscar médico, atividade física ou mudança de hábito alimentar, isso tudo só vai provocar estresse. A vida está difícil, é preciso correr atrás do dim dim, é preciso trabalhar e trabalhar muito, de domingo a domingo, o dia todo e mais um pouco da noite. A família, o lazer, os amigos, os momentos com quem se ama, ficam para outro dia, outra hora,  mais tarde. E assim as pessoas vão a pequenos atos e escolhas sem perceber,  se suicidando lentamente. Ai morre e os que a rodeiam dizem: mas assim tão de repente? Não foi de repente, foi dia a dia planejado e executado o plano de auto se eliminar, sem ter consciência, mas uma escolha. E há ainda os que hoje dizem sim à sociedade, escolhem ser o que a sociedade lhes impõem, não o que o seu íntimo deseja. Os que em prol de uma boa colocação, um casamento que dá “estabilidade e segurança” vão se anulando, se encolhendo, se frustrando, e ai de repente o coração fica tão apertado, tão cheio de frustrações que não agüenta e explode e o sujeito se vai e de novo as pessoas dizem, mas parecia tão saudável… Mas, na verdade, o sujeito escolheu agradar a sociedade e ir se matando lenta e silenciosamente. Tem o envenenamento diário, que uns escolhem que é o de ficar roendo o ódio, o orgulho, a inveja, amargura, a vitimização. Para esses, o suicido é mais lento ainda e muitas vezes bem doloroso porque normalmente todos esses sentimentos negativos liberam muitas toxinas no organismo que vão se transformando muitas vezes em tumores, que darão muito trabalho ao que se envenena e aos amigos e familiares. A todo momento estamos tendo a oportunidade de escolher entre a vida e a morte, que é certa para todos, mas que a ninguém foi dado o direito de decidir quando será. E a vida é difícil, é complicada, é cheia de frustração e decepções, mas se colocarmos na balança, com certeza as alegrias, as coisas boas, os bons encontros será muito maior, até porque como diz o poeta é bonita, é bonita…basta aprender apreciar o sorriso das crianças e a beleza dos ipês que florescem  anunciando o fim do inverno e o desabrochar da primavera para continuar a viver e viver bem e com alegria, porque a felicidade está no simples e singelo.

 

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