Mais uma crônica de Francisco Carlos Caldas

            Minha mãe, foi a filha mais velha (primogênita) da antiga Família Dellê, de Pinhão, constituída de Francisco Alexandre Dellê, Querobina Rocha Dellê, e filhos: Georgina, Alcides, Silvio, Aline, Ciro, Jacir, Sebastião, Arival, Luiz, José e Arina.

Minha mãe, faleceu em 20/01/2000, com 84 anos, e como queria, lúcida, caminhando com suas próprias pernas. Apagou, como se diz, e a encontramos na cama, como se tivesse dormindo.

Minha mãe, deixou um legado de preciosas lições. Entre outras qualidades, era prática, resolutiva, simples, objetiva, racional. E foi dela, que ouvi a expressão que dá o título a esta crônica, e também uma forma indireta, criativa e nostálgica de homenageá-la.

É claro que os tempos eram outros. O dito é do tempo que o veludo era caro, luxo, chique; e o comum, era o brim, a pelúcia, flanela, sei lá mais o que, e roupas e calçados passarem de um para o outro. Mas nos dias de hoje, do capitalismo selvagem, consumismo desenfreado, endeusamento do supérfluo, a expressão na sua essência, continua atual, útil, e digna de profundas reflexões.

Em outras palavras, o que mamãe queria dizer,  era de que não é um bom negócio dar um de metido, fazer ostentação e querer aparentar patrimônio e situação econômico-financeira incompatível e incoerente com a sua situação. Mas não é só por causa disso, que levamos mais de três décadas para ter espaços de moradia e de trabalho, um pouco maior e melhor, e andamos de Parati, ano 1986 e camionete ano 1997. E como é bom, comer feijão com arroz, ovo frito (zoioudo), um viradinho de couve, batatinha frita, um charque com batata ou mandioca,  galinha caipira se desmanchando na panela, bolinho de polvilho, folhado, arroz doce, doce de pêssego, de abóbora, arroz doce, canjica;  comer frutas de quintal/pomar, tomar água com sede.

Há também o legado, de que é muito útil e há também muita beleza e até lampejos de sabedoria, nas coisas simples. E não foi à toa, o dito por  uma tal de  Sully Vilaub, de que “a simplicidade é o último grau da sabedoria”; ou o dito por Helena Kolody, que não queria ser o grande rio caudaloso que figura nos mapas, mas o cristalino fio d’água, que canta e murmura na mata silenciosa. É claro que isso não significa dizer, que não devemos buscar e lutar pelos benefícios dos avanços e sofisticações tecnológicas, mas desde que isso não represente, perda do essencial, do básico, do necessário, ou endividamentos incompatíveis com receitas/rendas, que levem a falência, insolvência, e mesmo não honrar compromissos financeiros e fiscais.

E essas questões acima, também se aplica na VIDA PÚBLICA, e nos três Poderes da clássica e simples divisão dos Poderes de Montesquieu, ou seja: Legislativo, Executivo e Judiciário. E não adianta querer: dar passos maior que as pernas; reinventar a roda; contrariar a lógica e matemática de que 2 + 2 são 4; contrariar  a “natureza das coisas” a que tanto temia Napoleão Bonaparte. Não adianta também aparatos legislativos, e não se fazer o dever de casa, ou deixar que leis essenciais, simples, básicas e claras não sejam colocadas em práticas e  cumpridas, como por exemplos, a Lei nº. 936/1998, aperfeiçoada pela Lei 1.456/2009; Lei 1.796/2013, 1.891/2014; as de correta separação e destinação dos resíduos sólidos: recicláveis, orgânicos e rejeitos.

Para encerrar, não morre quem vive no coração e cabeça dos vivos, e cada um a sua maneira, é agente de sua história, e não é um bom negócio, desprezar o passado e história, e descambar as coisas meio que só para o presente, futuro; o  célere, efêmero, superficial, virtual, internet, celular; e colocar o trabalho, que afasta de nós 3 grandes males (o vício, o tédio e a necessidade), nas palavras de Voltaire, como um peso, ou só de egoística e ímproba fonte de receita, como de ganhos sem trabalhar, horas extras de araque, muito apego em direitos e pouco em deveres/obrigações, e  males do gênero.

Francisco Carlos Caldas, advogado e  cidadão    E-mail[email protected]  –     

 

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