Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

A mentalidade politicamente correta, ao seu modo, atua sobre as pessoas tal qual um veneno gregário, levando os indivíduos a agirem e a pensarem feito uma matilha, ignorando qualquer advertência que lhe seja feita, ou que ecoe do fundo de sua consciência.

Muitos são os casos, infelizmente, em que vemos pessoas enfermadas por essa tranqueira, pessoas que agem dum modo que, se formos generosos no uso das palavras, seriam, como nos ensina José Ortega y Gasset, similares a crianças mimadas, ou a trogloditas revoltados, que imaginam que as suas preocupações, que as inquietações e desejos de sua patotinha, seriam as questões prementes de toda a humanidade.

Todos nós, uma vez ou outra, podemos cair nesse tipo de criancice cretina. A leviandade nossa de cada dia pode nos levar a isso. E, se o fazemos, saibamos que não há boniteza alguma nessa impostura. Agora, quando o indivíduo adota essa mentalidade como modus operandi de sua fossa mental, meu amigo, não há quem segure o sujeito.

Ele vai longe, porque subjacente a toda sua loucura politicamente desorientada há método. Há método por trás dessa loucura toda. Pior! Ele agirá, realizando as mais ignóbeis baixezas imaginando que isso é um ato digno e apreciável. E aí daqueles que digam o contrário. Fofoca, difamação, imputação de crime, histeria, tudo isso junto e misturado, ou separado em caixinhas de veludo, para qualquer indivíduo afetado pelo veneno gregário politicamente correto é mais do que justificável; é mais do que admissível; aos seus olhos “do bem” isso tudo é aceitável, desde que, obviamente, esteja reforçando o espírito coletivista egolátrico da alcateia e enaltecendo os valores da patota.

Se fôssemos descrever essa degradação mental, espiritual, poderíamos ficar linhas e linhas discorrendo até torrar as vistas e a paciência do amigo leitor, mas, não desejamos tomar muito do seu precioso tempo. Por isso, iremos fiar a malha dessa escrevinhação apenas com relação ao uso abusado do vocábulo “preconceito” e suas criativas variantes. Preconceitos existem, não são poucos e não há quem não os tenha.

Alguns preconceitos são levianos, uns são envergonhados e, outros tantos, diabolicamente manifestos e estruturados em ações intoleráveis. Todos nós sabemos disso. Todos nós também sabemos que a galerinha “do bem” imagina-se estar acima dessas fraquezas humanas, porém, gostem ou não, eles também os têm.

Como os têm. Sigamos em frente: na mentalidade gregária, a palavra “preconceito” é sempre utilizada como um porrete para bater naqueles que discordam dos “valores” defendidos pelas almas ideologicamente enfermadas. Ou seja: é apenas uma arma para promover a difamação de qualquer infeliz que ouse contrariá-los e, consequentemente, estigmatiza-lo. Aliás, uma arma extremamente eficaz para esse intento, como muito bem nos explica Norbert Elias.

Reparem, e reparem bem, como a palavra “preconceito” é utilizada levianamente para rotular pessoas e entidades, inclusive e principalmente pela grande mídia. Basta que essas não rezem a cartilha politicamente correta para que, mais do que depressa, elas sejam estigmatizadas como sendo suposta e perigosamente preconceituosas. Ou seja: se o infeliz não está de acordo com a sandice afirmada pela manada, será carimbado como sendo preconceituoso e ponto.

Não tem lesco-lesco. Se o infame apresenta referências que refutam o mantra gregário, aí sim, não tem perdão. Ficará rotulado como preconceituosíssimo. E zefini. Enfim, e esse é o mais importante, se uma pessoa qualquer, infundir, por meio de palavras, num sujeito ou em boa parte de sua turba, um mínimo de insegurança psicológica com relação as suas crenças e crendices ideológicas, meu amigo, nesse caso chilique pouco será bobagem. Para essa gente enfermada isso tudo seria uma suposta manifestação de indignação cidadã.

Eles realmente acreditam que a calúnia, a difamação e a fofocagem seriam expedientes razoáveis, aceitáveis e mesmo dignificantes, porque estariam maquiavelicamente sendo feitos em nome de sua patética causa, de um suposto e hiperbólico bem maior, dando um claro sinal de ter sua vida guiada por aquilo que Eric Voegelin chamava de “fé metastática”. É óbvio que tais imposturas não são praticadas sem um terrível prejuízo intelectual, pois acaba ficam mais do que evidente que um indivíduo que assim proceda termina limitando drasticamente a sua capacidade de compreensão da realidade.

Sim, ele poderá repetir para si mesmo, na frente de um espelho, numa vã tentativa de se hipnotizar, que ele crítico, muito crítico, o mais crítico dos críticos, mas, esse encantamento chinfrim não vai mudar o quadro geral de sua degradação. Não estou brincando não. O angu é mais encaroçado do que imaginamos.

Quando esse tipo de mentalidade passa a guiar o indivíduo, quando ele coloca a defesa duma ideologia acima da procura sincera pela verdade, ele acaba se tornando incapaz, por exemplo, de ler algo, silenciar e refletir sobre o que está sendo dito. Isso demanda tempo e, obviamente, paciência. Ao invés disso, o infeliz acaba apenas reagindo, feito um autômato, repetindo slogans ocos, servindo de peão numa estratégia de poder que ele ignora completamente por ter mutilado voluntariamente a sua capacidade de centrar-se e, consequentemente, de compreender. E é claro que o infeliz, portador dessa enfermidade, irá odiar qualquer um que ouse lembra-lo disso.

Resumindo, o garoto mimado orteguiano é assim mesmo: não compreende o que diz e não sabe o que faz, mas, por ter seu horizonte de compreensão da realidade limitado pela estreiteza de uma ideologia, e pelas muralhas umbilicais de seus desejos, ele acredita realmente tudo conhecer sem nada saber.

Sinceramente, rezemos por essas atormentadas almas, principalmente, porque elas não querem que façamos isso por elas.

Fim. Hora do café.

(*) Apenas um caipira que bebe muito café.

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