Ela acredita que coisa boa na vida é ganhar abraço.

Acredita que qualquer coisa, qualquer coisinha mesmo, vira motivo para abraçar quem se ama.

Isso era tão real para ela que, em sua casa, abraça e beija o dia inteiro.

Passou por ela, deu bobeira, ganha um abraço, um beijo, um garro.

A moça acredita que não se pode perder a chance, não tem como deixar a oportunidade passar.

Em algumas ocasiões, como nos aniversários, os abraços mais afetuosos, demorados, calorosos acontecem.

Mais gostosos de serem recebidos, oferecidos, trocados.

Cada ano, com a desculpa convincente de ganhar o maior número possível de abraços, convida seus amigos para irem até sua casa.

Olhando assim de longe, não se lembra exatamente de quando Ele foi a um desses encontros pela primeira vez.

Desconfia veementemente de que aconteceu antes que sua idade terminasse em “inte”.

Ele diz que não.

Isso hoje não mais importa.

O que vale aqui dizer é que possivelmente foi em um desses encontros que seus abraços se conheceram.

Seus abraços trocaram um simples “olá”.

E ponto.

E pronto.

Sempre que se encontravam um abraço ia e outro vinha.

Só.

Os “inte”  dela viraram “inta”.

Até que um dia, depois de muitos, muitos anos que seus abraços foram apresentados, algo diferente aconteceu.

Eles, que sempre se abraçaram como se irmãos fossem, depois de tanto tempo viram que a sintonia havia mudado.
Mudado de estação.

Estranho?

Demais.

Estranhamente gostoso.

E, agora, quando a hora de mudar novamente se aproxima esperam ganhar abraços trazidos de longe, de perto e de muito longe.

Afinal, não existe celebração sem abraço, não existe mudança de estação sem que o coração mude o compasso depois de um belo e delicioso aconchego: lugar onde tudo começa, continua e permanece.

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no
www.viviantunes.wordpress.com

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