Há uma verdadeira invasão de bárbaro na sociedade e isso não é de hoje. Uma invasão pelo alto, vertical, diga-se de passagem. Bárbaros esses que se apresentam com todos os trejeitos civilizados e com feições elegantes, que são requeridos pela “boa educação”; porém, esses sujeitos, enquanto causa eficiente, com os objetivos que almejam e com um conteúdo todo particular são a mais decantada expressão da barbárie.

Trocando em miúdos: no mundo moderno, torna-se cada vez mais comum a apresentação de bens substancialmente degradantes, confeccionados por pessoas com a alma corrompida, com finalidades destrutivas, mas que tem uma forma bonitinha e aceitável para aliciar os incautos.

E como frequentemente valorizamos muito mais o pacote do que o conteúdo dele; como estamos inclinados a valorizar um livro muito mais pela sua capa do que pelo que verte de suas páginas, o caminho para destruição de tudo o que realmente tem algum valor está aberto e escancarado em nosso peito por nós mesmos. Infelizmente.

Esse tipo de barbarização da vida, como nos explica Mário Ferreira dos Santos, apresenta alguns traços que podem ser identificados por nós, se assim desejarmos.

O primeiro deles seria a desvalorização da inteligência, onde assertivas precipitadas de ocasião tomam o lugar da nossa capacidade de matutar, passando a ser o centro da nossa vida.

Não careceria dizer, mas o farei: esse seria um centro instável, que permite essa depreciação da inteligência em favor de pontos de vista ocasionais, emotivos e, por isso mesmo, epidérmicos, nada mais seria que o relativismo moral elevado à condição de critério absoluto de valor o que, por sua vez, seria tão só e simplesmente a ditadura do relativismo denunciada tantas por Bento XVI.

O relativismo moral é um acento muito confortável para nossa preguiça nada original. Ao invés de termos que fiar nosso posso no rumo de um possível aprimoramento, acabamos preferindo nos acomodar por termos encontrado a justificativa filosófica mais que perfeita que, por sua deixa, termina nos dando uma visão distorcida da realidade, colocando nosso olhar caprichoso no centro de tudo, levando-nos consequentemente a perder, gradativamente, o dito cujo do senso das proporções, que é a base da nossa inteligência.

Sim, eu sei que cada um de nós irá reconhecer esse traço torto na figura desalinhada daqueles que temos na conta dum desafeto. Estou sabendo. Mas tal atitude também é um traço dessa barbarização.

Gostemos ou não de admitir, bem provavelmente algo do que foi indicado nas linhas acima se faz presente no coração de cada um de nós, tendo em vista que vivemos num mundo tão massificado quanto desnorteado e, por isso, seria praticamente impossível que parte desse caos não se fizesse presente em nós; e o fato de não reconhecermos isso denota o quanto nosso senso das proporções encontra-se maculado.

Consequentemente, essa batalha contra a barbarização da sociedade, contra a tribalização das relações humanas, começa em nosso coração, inicia-se com o reconhecimento de que parte dessa degradação está deitando suas raízes no solo da nossa alma.

Um claro sinal de que nos encontramos caminhado por essa estrada da perdição é se utilizamos como critério de avaliação dos acontecimentos apenas os nossos gostos e predileções. Quando adotamos esse tipo raso de critério, passamos a considerar algo bom e verdadeiro porque simplesmente nos apetece e, se nos desagrada, consideramos, sem pestanejar, que isso seria tão ruim quanto desprezível.

Desse modo, acabamos por tornar o nosso umbigo caprichoso a medida de todas as coisas o que, por sua deixa, nos arrasta para a perda de todo o senso das proporções, tendo em vista que não existe nada mais volúvel na face da terra do que nossos caprichos elevados a condição de norma ética universal. É isso que o relativismo moral faz.

Enfim, reparem o quão facilmente fazemos isso. Sim, uns mais, outros menos, mas todos nós corremos diariamente o risco de cairmos nessa vil arapuca demasiadamente humana, tendo em vista a grande quantidade de estereótipos infames que muitas vezes colamos uns nos outros achando que ao fazer isso estamos agindo “criticamente” e de maneira “consciente”.

Sim, isso é triste. Muito triste. Mas é mais ou menos desse jeitão que, com nossa permissão, a banda podre toca o fervo em nossa alma.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 09 de junho de 2020, dia de São José de Anchieta.

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