Ouça a cronica:

O ser humano é um bichinho falador. Um baita contador de causo. Todos nós gostamos de ouvir uma boa história e, é claro, gostamos mais ainda de passa-la pra frente, recontando-a para os nossos como se fôssemos os primeiros a fazê-lo.

Tal atitude vê-se claramente presente em torno de uma mesa de bar, como também nos meandros discretos de um grupo de whatsapp. Tanto na primeira como na segunda situação, lá estamos nós repassando uma informação e, ao repassá-la, acabamos aumentando, em alguma medida, um ponto do conto.

Não há dúvida alguma que é muitíssimo prazeroso fazer isso, tanto ouvir quanto contar histórias, porém, a porca torce o rabo, e torce disfarçadamente, quando começamos a confundir a sensação agradável que nos é propiciada por esses momentos, com a impressão de estarmos realmente por dentro de todos os fatos e acontecimentos.

Quando contamos um causo, quando repassamos uma notícia, ou uma sequência de informações, essas acabam sendo comunicadas a nós, e repassadas por nós, juntamente com um encadeamento previamente elaborado para dar a impressão de coerência e certeza ao que está sendo compartilhado. Impressões essas que, na maioria dos casos, não são tão sólidas assim.

Seria aquilo que o filósofo Nassim Taleb chamou de a “falácia da narrativa”, que consiste em reunir fatos desconexos em um todo narrativo, como se cada um deles estivesse integrando, dando forma a uma história tremendamente coerente.

Dito de outro modo, por termos uma tendência natural a ouvir e contar prosas, de forma desatenta e distraída, acabamos por nos habituar a nos informar de uma maneira leviana e inconsequente e, tal atitude, frente a história e a rede de informações que nos cerca, acaba por nos tornar presas fáceis frente às “guerras de narrativas”.

Para não ficarmos numa posição de fragilidade frente às torrentes de informações que chegam até nós, é imprescindível que procuremos ser tão perspicazes quanto pacientes diante de tudo o que nos é apresentado como sendo [supostamente] algo ao mesmo tempo “científico”, “democrático” e “inquestionável”.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

https://sites.google.com/view/zanela

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