Humberto Silva Pinho

Por Humberto Pinho da Silva

Em véspera de Natal, descia em companhia de jornalista do “L’Osservatore Romano” –  que na época residia no convento anexo à Basílica de Santo António,-  a via Merulana, em direção à Praça Maria Maggiore.

Tinha ido a Roma visitar amigo, irmão do venerando Francisco.

Vínhamos animados, a cavaquear sobre o efeito nefasto de algumas seitas, que proliferavam pelo Brasil, que provocam, nas mentes menos esclarecidas, perigosas lavagens cerebrais.

Dizia-me o meu interlocutor, que a expansão dessas “Igrejas”, ditas evangélicas, mas que muito pouco têm do Evangelho, deve-se aos líderes usarem linguagem chã, despretensiosa e quantas vezes grande astucia. Bem diferente das verdadeiras Igrejas Evangélicas.

Ao entrarmos na via Liberiana encaramos grupo de estrangeiros: eram brasileiros e vinham acompanhados de padre franciscano, de ascendência alemã, conhecido de meu amigo.

Após as saudações e o contentamento de toparmos, no centro da Cidade Eterna, com a nossa gente, gente que fala a nossa língua, alguém, aproveitou para contar história, que ouvira numa assembleia cristã, já que estávamos em plena quadra natalícia.

Considerei-a bastante oportuna e merecedora de profunda reflexão. Por isso apresento-a, mais ou menos como a ouvi:

Numa paróquia de povoazinha do interior do Estado de Santa Catarina, andavam todos em lufa-lufa, na preparação da festa natalícia. As catequistas e grupo de jovens, haviam preparado pequena peça teatral, intercalada com leituras bíblicas e muitas canções apropriadas à época.

O salão, que era amplo, foi alegrado com brilhos, flores purpurizadas, e vistosas bolas, de variegadas cores, e no proscénio havia lindas avencas e sambambaias, em cascata.

Encantoado, entre panos brancos e azuis, estava um presépio em cascata, e ao centro, dormia o Menino, nu, de madeira pintada, bem agasalhado em mantilha branca.

Tanto o salão como o presépio estavam mergulhados em penumbra, que mal permitia divisar o grupo de crianças, que sentadas no chão, tagarelavam em ruidoso murmúrio.

Para espanto dos petizes, destacou-se do negrume, uma figura quase translúcida, que lentamente aproximou-se das crianças.

Assombradas com a súbita aparição, emudeceram.

Tony, o mocinho mais espigadote e reguila, ganhando coragem balbuciou:

– É Jesus! …É Jesus! …É Jesus! …

Foi então que a Gé, ousou falar:

– O que queres!? Vens trazer-nos brinquedos?!

Erguendo-se num ápice, a sapeca Lili, dispara:

– Eu queria a boneca que vi na rua do Conselheiro Mafra e a consola que o bazar do Centro Comercial, vende.

Jesus, atento, mas silencioso, toma expressão de bondade.

Tomé, vendo que Jesus nada trazia, declara irado:

-Não Te quero! …Não Te quero! …Vens visitar-nos no Natal e não trazes nada!? – E rematou com a frase que ouvira ao pai: – “A religião é o ópio do povo!”

O semblante de Jesus apagou-se de tristeza, e carinhosamente, abrindo os braços num gesto de ternura, sussurra:

– Eu sou o “presente”! Trago-vos a Minha paz! Dou-vos o Meu Amor!

Mal tinha acabado de falar, iluminou-se o salão e o leitor de Cds, que estava dissimulado por cortina de veludo, jorrou canções natalícias.

Em alegre procissão, a multidão entra na sala e apressasse a buscar os melhores lugares.

Adiante, rodeado de crianças que tangem palminhas de felicidade vinha o Papai Noel, vestido de encarnado, com longas e falsas barbas brancas, que escorriam-lhe para o peito; falsas como a neve do presépio.

Sobre os ombros trazia agigantado saco, repleto de brinquedos e guloseimas.

Explodem as palmas e sorriem os rostos. A festa de Natal vai começar…

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