Por Bruno Zampier

Caro leitor, quantas vezes você já trocou de companhia telefônica? Não são muitas opções: Vivo, Claro, Oi e Tim. Se eu não me engano, você já deve ter sido cliente de pelo menos umas três. Em algum momento, você descobriu que a concorrente tinha um preço muito menor ou simplesmente se irritou com quedas no sinal de internet. Algumas horas de sua vida foram perdidas em filas nas lojas, nos caixas e no 0800. Mas houve um tempo em que foi ainda pior.

Durante anos, o monopólio estatal de serviço telefônico atormentou os brasileiros. Nos anos 80 e 90, uma linha telefônica era tão cara que era negociada – acredite se puder – em imobiliárias. Às vezes saía negócio: trocava-se um número de telefone por um terreno ou um carro. O governo afirmava que a telefonia era questão estratégica para o desenvolvimento nacional e que só o Estado poderia oferecer o serviço para todos. E o povo acreditava. Assim, a Eletrobrás detinha o controle de todas as linhas do país, com milhares de funcionários e uma montanha de dinheiro público para se manter operante. Quem fazia a farra eram os partidos políticos que, uma vez no poder, distribuíam cargos para seus aliados e cabos eleitorais.

Em 1998 veio a tal privatização, conduzida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Os petistas protestaram furiosamente, acusando os tucanos de “neoliberais”, o mais ofensivo dos xingamentos na linguagem socialista da época. Nos protestos, tentaram alertar que a abertura da telefonia para o livre mercado resultaria em perda de tecnologia nacional, monopólio de empresas estrangeiras, fuga de capital brasileiro para o exterior e outras tragédias apocalípticas. Na realidade, o resultado foi bem diferente, mas desde que Marx errou todas as previsões sobre o futuro do capitalismo, não podemos dizer que é exatamente uma novidade flagrarmos um socialista dizendo bobagem sobre o que acontecerá se reduzirmos um pouquinho o tamanho do Estado.

Hoje não compramos mais linhas telefônicas em imobiliárias e mesmo um assalariado consegue falar ao telefone e acessar a internet no meio da rua.  Neste sentido, de fato, uma melhora. Mas poderia ser muito melhor, se o tal PSDB não tivesse o mesmo berço ideológico do PT. Todos aqueles xingamentos não passaram de uma briga em família. Ocorre que o modelo de concessão adotado não permite verdadeira concorrência. Se assim fosse, teríamos muito mais do que apenas quatro empresas controlando todo o serviço de telefone e internet no país. Oi, Tim, Vivo e Claro concentram 98% de todas as linhas do país.[1]

Como explica Bruno Garschaghen:

O mais benéfico para os consumidores seria várias companhias disputando o mercado por meio da oferta de melhores produtos, serviços e menor preço. O modelo em vigor, por outro lado, faz com que as poucas empresas vencedoras do processo de concessão se preocupem mais em atender as exigências do governo do que as necessidades dos seus clientes. Quanto menor a concorrência, maior o poder do governo, dos políticos e das grandes empresas – e pior para nós usuários. [2]

É por isso que você, caro leitor, ainda vai passar muitas horas da sua vida lutando com quedas de sinal, preços altos e aguardando nas filas e no 0800. Com apenas quatro concorrentes, as empresas não precisam se esforçar muito: a fatia de mercado que elas desfrutam é imensa. Para elas, reduzir a qualidade do serviço e manter preços altos só vai resultar em um leve prejuízo depois de muito tempo. Assim, é o Estado quem seleciona, para você, quais as empresas obterão concessão para te oferecer os produtos e serviços, protegendo-as contra uma concorrência maior e mais agressiva. Na festinha dos neoliberais ou neossocialistas, quem paga a conta, mais uma vez, é você.


[1] Fonte: https://www.mobilit.com.br/operadoras-de-telefonia-no-brasil-quais-sao-e-como-operam/

[2] GARSCHAGHEN, Bruno. Pare de Acreditar no Governo: Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado. Rio de Janeiro: Record, 2016, p. 221.


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