Bruno Zampier

por  Bruno Zampier*

Mais uma vez os detentores do poder unem forças contra um inimigo em comum. Socialistas e capitalistas não vencerão essa luta sem uma grande campanha midiática, publicação de livros, artigos, financiamento de pesquisas. Não é tão fácil manipular as massas. Mas nada que muito dinheiro não resolva: eles sabem que a maioria das pessoas não está interessada em compreender a verdade das coisas, contentam-se em imitar o que os outros fazem e dizem.

Então juntam-se a eles alguns artistas, cantoras e cantores, atores e atrizes, professores, médicos, ministros, juízes, promotores, advogados, psicólogos, ativistas das mais variadas vertentes. Até os ambientalistas compraram a briga.

O inimigo, por sua vez, não tem armas, não tem conchavos, não tem dinheiro. O inimigo não tem voz. Ele não tem nada além de sua própria vida. Trata-se do nascituro, o ser humano indefeso e inocente. Aos olhos de muitos, no entanto, ele é uma ameaça. Capaz de chorar e gritar, encher fraldas com dejetos mal cheirosos que ofendem os olfatos mais delicados, ele ameaça as noites de sono daqueles que não podem ser incomodados. Também é um grande problema para aqueles que tem compromissos em festas e baladas, divertidas viagens a passeio ou precisam de tempo para construir uma brilhante carreira meteórica no funcionalismo público ou na iniciativa privada. Claro que ninguém admite isso, então é preciso inventar argumentos que pareçam mais racionais.

Fomos testemunhas de uma dessas tentativas, recentemente, quando pudemos ouvir os argumentos de uma certa pessoa, que em um debate público, microfone na mão, apresentou suas justificativas. Citamos aqui sua argumentação pois sabemos que elas são repetidas por aí como se fossem racionais e logicamente coerentes. Como esperamos que a insanidade não se alastre, convém responder brevemente tais estultices. Entre os argumentos ela disse:

“Um feto não é um ser humano, um feto não é uma pessoa”.

Talvez você já tenha ouvido essa bobagem por aí. Eu me pergunto como isso pode ser um argumento a favor do aborto. Ora, se o feto não é um ser humano, então por que você quer matá-lo, cara pálida?

Sabemos que o feto é alguma coisa, pois do contrário não haveria debate em torno dele. Se admitirmos que não é um ser humano, resta saber então o que ele é. Será um vegetal? Quem sabe um repolho? Será um boto rosa? Será uma pepita de ouro? Certamente não. Se fosse, disputariam a adoção a tapas. A verdade – dura verdade – é que todas essas pessoas que objetam a natureza humana do feto, sabem muito bem que o feto é sim um ser humano. A natureza humana é definida pela genética, não por aquilo que vai na imaginação de alguns.

Aliás, é JUSTAMENTE por ser um ser humano, que querem matá-lo. Por acaso jogariam ácido, se fosse uma maleta cheia de dólares? Duvido. Cortariam-no em pedaços, se fosse um iPhone? Certamente não. Um ser humano inocente e indefeso não tem nada melhor a oferecer do que um sorriso alegre e sincero, coisa que a uma pessoa de coração seco e duro já não interessa. Pessoas que não amam, nem querem ser amadas, só se interessam por objetos e bichinhos que, caso incomodem, podem ser colocados porta afora.

Outro detalhe desse argumento é que ele não é novidade. Ao longo da história, negar a humanidade ou a personalidade do outro sempre foi o primeiro expediente daqueles que pretendem matar e escravizar. Sim, nazistas e escravocratas negavam os direitos da personalidade de suas vítimas. Bizarro é vê-lo atualmente na boca sem pudor das mesmas pessoas que frequentemente estão falando em reparação histórica.

Não esqueçamos dos ambientalistas pró-aborto, protetores das florestas e dos ovos de tartaruga. Essas pessoas preocupadas com o aumento populacional não pretendem dar cabo da própria vida em prol do planeta Terra. O alvo, claro, é sempre o outro. O problema é sempre o outro, nunca eu: “para mim, bebida, churrasco, festa e pornografia, para o outro, Cytotec”. Ou uma injeção de cloreto de potássio, prática que é proibida durante a realização de eutanásia em animais devido a intensidade do sofrimento causado, mas para o bebê ainda no ventre é mamão com açúcar.

E vale a pena lembrar que, recentemente, os detentores do poder suspenderam uma resolução do Conselho Federal de Medicina que impedia o seu uso em procedimentos de interrupção da gravidez, assassinato de bebês, após a 22ª semana de gestação. Ou seja… um bebê que poderia sobreviver se retirado do ventre com vida e colocado em uma UTI neonatal, recebendo pena de morte – e morte dolorosa – por um crime pelo qual ele não é o culpado. Aliás, o culpado tem direito a audiência de custódia, refeições diárias, defesa técnica, visitas da família, direito a trabalhar e estudar, e direito a um dia sair livre. O fato de que a maioria desses estupradores reincide múltiplas vezes e mesmo assim não recebe pena capital ou perpétua, não desperta indignação daquele famoso movimento que diz lutar pelas mulheres. No Brasil, a pena mínima para o estupro é de apenas 6 anos, o que, na prática, significa liberdade e mais estupros em pouco tempo. A pena capital é então dirigida contra o inocente, mas não por acaso: a indústria farmacêutica que produz pílulas e outras substancias abortivas certamente lucrará bilhões ao vender para o governo de um país grande como o Brasil. Indústrias estas, comandadas por homens, grandes empresários, bilionários, que tem na mão as rédeas para manipular aqueles movimentos.

Não é pelas mulheres, é pelo dinheiro.

*Advogado e professor de Direito Penal no Centro Universitário Campo Real em Guarapuava-PR.

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