Por Humberto Pinho da Silva
Possuía, no século passado, meu pai, na zona histórica, belo prédio barroco – que recebera dos avós, – mas, ao longo dos anos, se delapidara.
Reformara-se com modesta pensão, bastante para levar vida desafogada, suficiente para possuir empregada, que realizava o maneio do lar.
Morrera-lhe a mulher, vítima de um meningioma. Manteve a serviçal, que, desde rapariguinha, trabalhava em sua companhia. Era já da família.
Com os escassos recursos, que possuía, não lhe era possível realizar as obras que o velho edifício precisava.
Idoso, bastante doente, – enfermidade que o vitimou, – recebe notificação oficial. Dizia o ofício: ” Informa-se que deve fazer obras ou demolir o prédio, que possui na rua x, no prazo de três meses. Caso não cumpra, obriga a que esta o faça, e impute a si, as despesas.”
Aflito, arrastando os pés, firmando-se na bengala – os filhos cumpriam serviço militar, – recolheu a amigo de infância, para solicitar entrevista com o Edil.
Perante a autoridade, explicou: não possuir recursos para satisfazer o pedido. Mas, como se tratava de imóvel barroco, podiam chegar a acordo: venderia, ao município, por preço modestíssimo.
Era, no momento, impossível tal negócio, segundo lhe disseram.
Colocou o edifício à venda. Apareceu falaz capitalista, que esmagou o preço, já de si irrisório. Comprou-o por tuta-e-meia.
Decorrido meses (anos?,) numa manhã luminosa, de céu lavado, tive que perpassar pelo prédio e reparei que havia enorme azafama de operários, no interior.
Acerquei-me de mulher, que permanecia recostada a umbral de humilde casa, e interroguei-a: ” O que se passa?”
Solícita, informou-me: ” É para instalar serviços oficiais”.
Agradeci, e fiquei inteirado: o valor de imóvel, terreno. Objecto de arte ou o que for, vale consoante for o proprietário.
Na mão de meu pai, velho e doente, nada valia; na mão de capitalista, era casa de valor, e embelezava o centro histórico.
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