Humberto Silva Pinho

Por Humberto Pinho da Silva

Gil Vicente, no auto de Mofina Mendes, conta-nos a aventura de pegureira: a pastora era descuidada, Payo Vaz vai despedi-la; mas generoso, apesar do mau serviço prestado, resolve dar-lhe pote de azeite para ir vendê-lo na feira.

Mofina Mendes, contente com a recompensa, não merecida, começa a cantar de alegria, bailando com o pote de azeite sobre a cabeça, dizendo: que vai a Trancoso vende-lo e, com o dinheiro arrecadado, comprara ovos de pata. Criando patos ficará rica e bem casada.

Dançando, elevada, cai-lhe o pote, e entorna-se o azeite.

Daqui se recolhe duas magnificas lições: o dinheiro malganho e mal merecido, em regra, não trás felicidade; e que a vida é feita de sonhos, ilusões e desilusões.

Somos todos um pouco Mofina Mendes:

Na infância, fantasiam-se risonhos futuros: tudo parece ser fácil de obter.

Na adolescência, projeta-se carreiras de sucesso. Sonha-se ser rico, importante, dono de belo carro e, casa confortável.

Mas os anos rolam, voam; surgem dolorosos acúleos, abrolhos e dissabores…

Chega por fim o almejado casamento, o fim da busca pela alma gemia, em que se coloca todos os anseios. Mas, quantas vezes só nos traz amargas deceções.

Por fim surgem os filhos. Imagina-se neles poder realizar os projetos que não se pode ou não se soube realizar.

Ternamente amamo-los, ainda que por vezes não mereçam; mas, acabam por apartarem-se e, muita sorte se tem, se não se envergonham dos progenitores…

E assim chega a velhice, a decadência do espírito e do corpo, e amargamente se verifica, que pouco ou nada se conseguiu do que foi sonhado.

Então, triste, desiludido, verifica-se que, também, o nosso ” pote de azeito”, se partiu…

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