Por Humberto Pinho da Silva
De vez enquanto é sempre bom espairecer, lendo anedota ou engraçada historieta.
A que pretendo recontar, por palavras minhas, é de autoria do Padre Manuel Bernardes.
Havia antigamente na ilha da Sicília, na cidade de Agrigento, cego astuto e assaz inteligente, que sem se perder, deambulava pelos caminhos tortuosos da ilha.
Como era poupado, aforrara bastante, arrecadando preciosa quantia que ciosamente guardava entre a palha do enxergão.
No correr do tempo, uma dúvida se levantou:
Era cego e se ladrão a quadrilha de malfeitores, suspeitando o pecúlio – e sempre há suspeitas, – o extorquisse.
Após muito matutar, assentou que melhor seria enterrá-lo em bom recato.
Assim pensou, melhor o fez. Pela calada da madrugada, dissimulado pela ténue luz lunar, cavou profunda cova depositando o púcaro com o precioso dinheiro.
Mas, sentindo estranho ruído, pressentiu que o arteiro do vizinho o vigiava…
Na dúvida, manhã alta, procurou o “amigo”, para lhe pedir Conselho:
– Ó vizinho! Faça-me o favor de me aconselhar! Enterrei em sítio azado, determinada quantia, que arrecadara, ainda tenho o restante, que escondi no judeu. Como sou cego, não lhe parece que melhor seria enterrá-lo junto do outro?
O “amigo” alegrou-se e aconselhou-o:
– Faz bem… muito bem. Sempre é mais garantido, do que tê-lo em casa.
Mas receoso, de ser descoberto, apressou-se a restituir o que retirara do panelo.
No dia seguinte, o cego, foi pelo despertar do dia, desenterrar, o púcaro, e com satisfação, verificou que o dinheiro estava lá.
Com forçado sorriso, virou-se para o lado onde supunha que o “amigo” estava observá-lo, e sustentando o panelo, disse-lhe levantando a voz:
– ” Amigo: vejo mais eu, sendo cego. do que você com os dois olhos!… ”
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