Dias atrás estava me lembrando do filme “O Jardineiro Fiel” (2005), dirigido por Fernando Meirelles. Um baita filme que, seguramente, merece ser assistido e, se você, amigo leitor, tal qual esse que agora vos escrevinha, já o viu, digo sem medo de errar: essa é uma película que merece ser revisitada.
Resumindo a trama toda, o filme gira em torno de Justin Quayle, um diplomata britânico que se mudou para o Quênia com esposa Tessa e, lá pelas tantas, ela é encontrada morta no meio do deserto. Enlutado e cuspindo marimbondo, o viúvo parte em uma jornada investigativa, e de redenção, que o levará a descobrir verdades desconcertantes a respeito do assassinato de sua esposa supostamente infiel. Revelações perturbadoras, diga-se de passagem.
Ah! Dane-se! Lá vai o spoiler: ela, Tessa, não estava traindo o esposo. Ela estava investigando uma indústria farmacêutica que estava testando medicamentos experimentais na população sem o consentimento dos indivíduos. Sim, no filme, ao final descobre-se que uma gigante da indústria de fármacos estava usando pessoas de um país pobre da África como cobaias humanas e, como Tessa estava metendo o seu nariz onde não era chamada, acabou sendo deletada da face da terra.
Bem, para infelicidade geral da Via-Láctea, realmente há inúmeros processos que foram movidos contra inúmeras grandes empresas desse ramo que, sim, usaram medicamentos e vacinas, em fase experimental, sem informar claramente às pessoas que tais medicamentos estavam ainda em fase de testes. Situações similares à que é apresentada pelo filme, por exemplo, ocorreram na Índia nos anos 80 do século passado e na Nigéria nos anos 90.
Pois é. Há um velho dito popular que diz que, ao entrarmos numa fábrica de perfumes não devemos criar a expectativa de que iremos sentir um cheiro bom. Tendo isso em mente, e se deitarmos nossas vistas nas páginas do livro “A assustadora história da medicina”, de Richard Gordon, iremos ver quantos e quantos erros, equívocos e outras coisinhas mais, foram perpetrados dentro dessa seara.
Penso que um bom exemplo disso, para termos maior clareza a respeito dessa encrenca, seja o da talidomida. Você conhece esse causo? Se não, lá vai: a talidomida é um medicamento que passou a ser produzido no final dos anos 50 e se fez presente em aproximadamente quarenta e seis países. Seus fabricantes acreditavam que o medicamento era muitíssimo seguro, tão seguro que poderia, inclusive, ser prescrito para mulheres grávidas para combater enjoos matinais. Não precisaria nem dizer, mas o farei: foi um sucesso. Vendeu feito água no deserto (era consumido como se fosse bala 7 Belo).
Porém, porque, é claro, sempre há um grande porém nesse tipo de história, já no início dos anos 60, começaram a aparecer os primeiros casos de malformações congênitas. A correlação entre as malformações e a talidomida não foram imediatamente identificadas, mas, com o tempo e com novos estudos, foram. E sim, foi uma grande tragédia. Milhares e milhares de crianças com malformações congênitas.
Mas sigamos em frente porque atrás vem gente. Diante do exposto, quando o assunto é a tal da ciência e suas consequências, penso que seria interessante aplicarmos os ensinamentos de Karl Popper que, por sua vez, nos lembra que toda investigação científica, ou minimamente orientada por critérios científicos, deve levar em conta que uma tese – uma proposta de solução para uma situação problema – acaba sendo sempre fortemente influenciada pelos nossos valores, pela nossa maneira de ver o mundo e, por isso, devemos incansavelmente avaliar, testar, averiguar de todas as formas possíveis e pensáveis nossas respostas para o problema apresentado à nós, ou levando por nós, para identificarmos todas as fragilidades que nossa tese possa ter.
Pois é, os questionamentos, e a procura sincera e abnegada pelo esclarecimento, frequentemente nos levam a perder a nossa “inocência postiça”. É batata. Não tem erro.
Detalhe: se essas falhas existirem, elas devem ser expostas e, então, lá iremos nós, mais uma vez, para reformular nossa tese inicial e partir para uma nova série de testes, averiguações e assim por diante, até chegarmos a uma solução minimamente razoável porque, um ponto de vista, que se pretende científico, não pode, de jeito maneira, se basear unicamente no poder persuasivo que a palavra “ciência” tem no imaginário dos desavisados, ou na confiança cega que é depositada por muitos em pretensas autoridades que se apresentam como porta-vozes da “ciência”. Autoridades essas que calam, sem corar, qualquer um que ouse querer avaliar os fatos com um mínimo de serenidade, e não com a opacidade da credulidade que é midiaticamente celebrada.
Abre parêntese: e não caiamos nessa história de negacionismo. Levantar questões é o que a virtude da prudência nos recomenda realizar. Questionar, como já foi dito, é próprio de uma investigação. Calar, caninamente, é próprio do controle exercido pelas tiranias. Fecha parêntese.
E o que é engraçado é que, quanto mais afirma-se um ponto de vista com base na autoridade encantatória da palavra ciência, menos essas pessoas, que afirmam estar calçadas com a dita cuja, procuraram, em algum momento, confrontar suas convicções com dados, fatos e explicações que não confirmem seus medos e anseios e, isso ocorre porque, para muitos, ciência seria apenas e tão somente o ato de repetir o que a mídia repercute. Pois é, mas repetir o que a mídia repercute não é, nunca foi e nunca será fazer ciência. Na verdade, é outra coisa.
Bem, para fecharmos o carteado dessa cacheta, vejamos um exemplo bem recente: o caso das medidas de lockdown, esse baita angu cientificamente encaroçado. Sobre isso, há uma Meta-análise publicada pela Universidade Johns Hopkins onde se constatou que, entre outras coisas, os bloqueios [lockdown] tiveram pouco ou nenhum efeito na contenção da mortalidade por COVID-19, pouco ou nenhum efeito positivo para saúde pública de um modo geral. Todavia, eles, os bloqueios, impuseram enormes custos econômicos e sociais onde foram adotados e, a razão disso, é porque as políticas de lockdown foram e são mal fundamentadas e, segundo a referida meta-análise, deveriam ser rejeitadas como uma diretriz de enfrentamento da pandemia.
É importante destacar que essa meta-análise procurou realizar uma triagem em 18.590 estudos sobre o problema colocado em discussão. Dezoito mil quinhentos e noventa estudos.
Bem, diante desses dados, não temos como não lembrarmos do guaju que foi feito em torno do lockdown, e que ainda é realizado, em favor de políticas similares, que nos são apresentadas como se fossem uma espécie de redenção sacramental de todo o gênero humano.
Enfim e por fim, se Justin Quayle, personagem do filme “O Jardineiro fiel”, tivesse acreditado candidamente naquilo que era afirmado pela mídia, ele jamais teria descoberto a terrível verdade que estava por trás de todo aquele bom-mocismo fingido – com sorriso colgate estampado no rosto – que, o tempo todo, sussurrava “mentiras carinhosas” em seus ouvidos para tentar vendar os seus olhos que, sinceramente, procuravam a verdade.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
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