Tudo que aqui realizamos, nessa breve passagem pela terra, bem ou mal, ecoa pela eternidade e, na maioria dos casos, ressoa de forma quase que inaudível pelas páginas empoeiradas da história. Esse ressoar inaudível será, provavelmente, o que ocorrerá quando eu e você, caríssimo leitor, tivermos terminado nossa jornada por aqui, porém, há aqueles que, devido a têmpera singular de sua alma, acabam deixando nas páginas amareladas da mestra da vida, um brado que ecoa pelos nervos e tendões dos séculos. Esse é o caso do professor Olavo de Carvalho que veio a falecer na noite de 24 de janeiro de 2022, dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos professores, escritores e jornalistas.

Poderia aqui falar inúmeras coisas, coisinhas e coisonas a respeito do professor, da importância de sua vasta obra e de tudo que ele incansavelmente procurou ensinar através de seus livros, artigos, aulas e cursos, mas não o farei, tendo em vista que isso não é necessário porque, a sua obra continuará sendo lida, estudada, meditada e discutida por inúmeros aprendizes de abnegados amantes da verdade.

Sou da geração que conheceu o professor primeiramente pelos seus livros, isso foi lá pelos idos do apagar das luzes do século XX. No ano 2000, se não me falha a memória, houve uma palestra ministrada por ele, no hotel Kuster de Guarapuava. Uma amiga havia me informado do evento e dei um jeito de ir. Fui de carona numa Kombi, do jeito que deu, com meu gravador de mão (daqueles com pequenas fitas k7) para registrar sua preleção.

A palestra que foi proferida por ele era sobre educação. Fala plácida, clara e incisiva. Findada a palestra, iniciou-se o momento das perguntas e, de todas as questões que foram levantadas, uma, que foi feita por um senhor, jamais esqueci. A intervenção feita por ele pedia para que o professor Olavo estabelecesse uma relação entre a obra de Viktor Frankl, o sentido da vida e a existência de Deus.

O professor, antes de começar a explicar a relação entre os três pontos, disse: “primeiramente não se deve negar a existência daquilo que existe. Deus existe e não se deve negá-lo. Não é bom fazê-lo”.

Bah! Na ocasião eu era um ateu pra lá de Zé orelha e, ao ouvir aquilo, fiquei desconcertado. Perguntava aos meus alfarrábios: como que um cara como ele acreditava em Deus? Confesso que fiquei bolado e, com o tempo, muito estudo e, é claro, muitas orações daqueles que pediam ao Altíssimo pela minha conversão, acabei virando essa página suína da minha porca vida.

São Clemente de Alexandria dizia que a filosofia é o pedagogo que nos leva a Cristo e, neste sentido, o filósofo Olavo de Carvalho cumpriu de forma magistral esse papel em minha vida, mostrando-me o Caminho, a Verdade e a Vida, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, através da filosofia e isso, cara pálida, não tem preço.

Abre parêntese: como o próprio Olavo dizia, com muito bom humor, Deus usa o que tem para poder nos resgatar. Não tenho dúvidas de que ele foi instrumento nas mãos do Altíssimo para me trazer de volta para a casa do Pai. Fecha parêntese.

E o que me deixa mais feliz é que, graças a Deus, eu não fui o único que regressou para a Barca de São Pedro por intermédio da obra do professor que entre um livro e uma aula, um artigo e um curso, um “True Outspeak” e uma notinha nas redes sociais, entre uma entrevista concedida e um palavrão proferido, lá estava ele ensinando a todos que desejassem aprender que a maior força que existe é a força de uma personalidade bem formada e que, se não tivermos o devido senso da imortalidade, de papelão e geleia será o nosso coração, ora porra.

Ou, como o próprio professor dizia: “tudo neste mundo se desfaz em pó, inclusive os valores humanos mais nobres e sublimes, e só o amor permanece, pois o amor é Deus e aquilo que Deus amou por uma fração de segundo Ele jamais cessará de amar.” Essa, caríssimos, é a medida de todas as coisas.

Por fim, o professor sempre dizia que quando morresse, ele esperava que a Virgem Santíssima estivesse junto aos umbrais do céu e que ela chegasse bem pertinho dele e dissesse, bem baixinho: “Vai! Vai! Aproveite. Entre agora que ninguém está vendo. Entre logo e não diga nada”.

Ele disse isso várias vezes em suas aulas. Bem, o dia chegou. Ele nos deixou. Não mais está na arena desse mundo lutando o bom combate, terminou a sua peleja aqui neste vale de sombras e lágrimas. Hoje, dia em que se celebra a conversão de São Paulo, provavelmente ele está em meio a uma tertúlia com outros filósofos que, como ele, nos ensinaram [e nos ensinam] que não é a aprovação das multidões e dos senhores [e senhoritos] deste mundo que devemos buscar, mas sim, que devemos procurar estar conscientes da presença da Verdade em nossa vida e não medir esforços para viver de acordo com Ela, porque a malícia, com todos os seus subterfúgios, jamais, jamais vencerá a sabedoria.

Enfim, professor Olavo, faço minhas as suas palavras, quando o senhor disse: “um dia, espero, estaremos todos lá, aos pés de Nosso Senhor, e nossas lágrimas de alegria inundarão universos inteiros.”

É isso. Descanse em paz professor Olavo de Carvalho. Muito obrigado por tudo. Foi uma honra ter sido seu aluno.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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