Sem dúvida alguma, um dos maiores Karatecas de todos os tempos foi Masutatsu Oyama. Lutador que fundou o estilo Kyokushin e que se tornou célebre pelas suas lutas travadas contra touros e cães.
Sem nenhuma arma, com as mãos nuas, ele entrava em arenas com touros onde arrancava as guampas dos bichos com um golpe de shuto (com a lateral externa da mão espalmada). Partiu as aspas de quarenta e nove touros e matou três com suas mãozinhas.
Lutou contra duzentos e setenta adversários e venceu a grande maioria com apenas um único golpe. Suas pelejas nunca duraram mais do que três minutos.
É, meu amigo, Oyama era, literalmente, uma figura legen… espere só um pouquinho, …dária.
Além de suas lutas com touros, existem outros feitos que compõem a sua biografia que, sem dúvida alguma, é de um elevado grau de fodereza, mas, o que realmente considero o ponto mais importante, para nós, reles mortais, aspirantes a coisa nenhuma, é caminho percorrido por ele para se tornar quem ele se tornou, a forma como ele encarava os obstáculos que a vida lhe apresentava e o modo como Oyama se dedicava ao Karatê.
Houve um momento de sua vida, depois de ter praticado durante longos anos o Kempo (chinês e coreano), o judô, o Karatê (estilos Shotokan e Goju-ryu) e o Muay Thai, em que ele se recolheu por três anos em uma floresta. Por três anos ele viveu em total isolamento, dedicando-se com grande intensidade ao aprimoramento de tudo aquilo que ele havia aprendido.
Durante o dia, do nascer ao pôr do sol, ele treinava. Ao cair da noite, em sua cabana, colocava-se numa posição apropriada e meditava por longas horas.
Em resumidas contas, o treinamento que impôs a si mesmo não era brincadeira. Era intenso, repetitivo e nem um pouco agradável. Porém, os resultados falam por si.
Agora, se tomarmos a dedicação e a autodisciplina de Oyama como um tipo ideal, como um modelo de comparação para avaliarmos a nossa capacidade de realização, a nossa autodisciplina e dedicação, veremos, com grande tristeza, que há algo de muito torto em nossa maneira de ser.
Uma das coisas que nos salta à vista é que Mas Oyama tinha muito claro para si o que ele pretendia realizar e, por isso, impunha-se uma série de normas que ele seguia à risca até superar os limites que ele havia estabelecido, pois é assim, desse jeito, que se atinge a excelência em qualquer coisa nesta vida.
Não é fazendo apenas aquilo que se gosta e que nos parece agradável que se chega à excelência, mas sim, realizando aquilo que é necessário para se atingir um objetivo claramente estabelecido, mesmo que o necessário pareça-nos enfadonho no momento em que estamos realizando-o.
Agora, nós, indivíduos tão presunçosos quanto autoindulgentes, se formos realmente sinceros conosco mesmo, constataremos que não sabemos claramente o que queremos realizar e nossa porca vida.
Sim, esperamos que um dia passe depois do outro e que, sabe-se lá Deus como, um dia nos tornemos melhor do que nós somos hoje, mesmo que não saibamos exatamente o que nós somos e o que, de fato, pretendemos ser.
Aliás, perguntemos a nós mesmos, sem titubear, quantas e quantas vezes nós deixamos de realizar algo necessário porque simplesmente isso nos pareceu chato, desagradável, entediante ou algo desse naipe.
Quantas lições deixamos de aprender, quantos coisas deixamos de fazer, quantas ideias deixamos de apreender, quantas situações deixamos de compreender porque estávamos mui satisfeitos com a imagem que fazemos de nós mesmos. O número, provavelmente, é desconcertante.
Com toda certeza foram muitas vezes e, o foram, porque no centro do nosso coração não estava a procura pela tal da excelência, mas sim, apenas a imagem autoindulgente que cultivamos [afetuosamente] de nós mesmos.
E, autoimagem, em qualquer época e em todo e qualquer lugar, sempre foi e sempre será uma arapuca que armamos para nos enganar, para justificar a nossa desídia nada original, que nos leva a crer que temos direito a tudo sem termos que chamar para nós a responsabilidade pela realização de coisa alguma.
No fundo, é isso que está subjacente a todas essas pedagogias que se fazem complacentes com a displicência, que nos instigam a não procurarmos a correção, mas sim, a clamarmos aos quatro ventos que os erros e equívocos devem ser aceitos e ovacionados como apenas mais uma forma de saber diferente.
É triste, mas o passo reinante é mais ou menos esse.
Enfim, há um velho ditado escocês que diz que não há conquista sem sacrifício. Dito de outro modo: não há ganho sem dor, sem esforço. Tal lição vê-se claramente cristalizada na figura do mestre Oyama, bem como na biografia e nas lições de inúmeros outros mestres. Porém, tal lição, não encontra morada nos ensinamentos dos doutos que norteiam a educação contemporânea, nem na forma como nós vivemos a nossa vida que, admitamos ou não, carece, como carece, de emenda e de correção.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
CLIQUE AQUI PARA LER OUTROS ARTIGOS