Podemos dizer, sem medo de errar, que a vontade, a capacidade humana de tomar uma decisão, de forma resoluta, em favor da realização de alguma coisa, seria um trem similar a um palito de fósforo.Ela, a vontade, pode ser uma chama que incendeia a vida e irradia luz e calor sobre tudo que está ao nosso redor, ou simplesmente esvair-se após consumir toda a madeira que se encontra junto da cabeça incendiária e, em seguida, mergulhar tudo que está próximo de nós numa penumbra de indecisão e de indisposição frente a responsabilidade pela nossa vida.

Podemos também dizer que o amor, tal qual a vontade, também seria similar a um palito de fósforo. Quando voltamos o nosso ser para a realização do bem amado, temos um efeito parecido: tudo ao nosso redor se alumia e se enche de vida. É um trem bonito de se ver. Agora, quando ficamos nos enamorando apenas com o brilho e com o calor fugaz do palitinho tosco que somos, corremos o risco de queimar a ponta dos dedos e, ainda por cima, de ficarmos sozinhos na noite escura da vida.

Quando tomamos a decisão de nos doar graciosamente pelo bem da pessoa amada, tudo em nossa vida se incendeia e fazem-se novas todas as coisas. Agora, quando esperamos, tolamente, que a pessoa amada e o mundo atendam servilmente todos os nossos caprichos, dos miúdos aos graúdos, os dias tornam-se plúmbeos, tornando estéreis e fúteis todas as relações que estabelecemos em nossa vida com todas as pessoas e com qualquer coisa.

E assim também o é com a nossa vontade. Ela esmorece e morre quando a nossa alma apenas ama aquilo que vê refletido nas lamacentas poças d’água dos descaminhos de nossa vida, ou no reflexo do gélido aço do espelho de Narciso.

Enfim, seja como for, como a um palito de fósforo é o amor; feito um fósforo é a vontade humana.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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