Adolescentes são um legítimo porre. Todos sabem disso. Todos. Porém, muitos preferem não dizer tal coisa publicamente porque, como todo porre, pode dar uma baita dor de cabeça e, muitos outros, não admitem isso por razões insondáveis. Independente das insondáveis razões, essas pobres almas dizem que esse porre todo seria apenas mais uma teoria da conspiração criada por gente retrógrada que não crê no poder do protagonismo transformador da força jovem.

Teoria da conspiração. Aí está uma expressão tão vaga quanto preguiçosa, como negacionista e obscurantista. Expressões essas que são usadas frequentemente por gente tão ignorante quanto presunçosa.

Bem, mas voltemos ao assunto do porre, digo, da adolescência. Convencionou-se, entre os psicólogos dos botecos, barbearias e afins, afirmar que a vida humana dividir-se-ia em quatro etapas, as quais seriam: infância, adolescência, maturidade e velhice. Entre esses, há alguns que nos chamam a atenção para o fenômeno que se convencionou chamar “adolescência tardia”. Fenômeno que, segundo os sabidos no assunto, se faz cada vez mais presente entre nós.

De minha parte, falando diretamente da cátedra a mim confiada pelo Instituto de Estudos Ultrapassados do Grão-ducado do Fundo da Grota, incluiria uma nova fase na vida humana. Etapa essa que chamarei, provisoriamente, de adultescência, uma variante [hum… variante] da tal adolescência tardia. Essa, pra lá de tardia. Etapa que, praticamente, vem tomando todo o tempo que antes era destinado a maturidade e a velhice – entre 30 e 65 anos – e, de forma similar a adolescência, essa novíssima etapa também é um porre. Digo, um senhor porre.

E o que é mais interessante é que a adultescência tem muitas semelhanças com a famigerada adolescência. Muitas. Por isso, aperte bem os cintos, ajeite bem os seus óculos, e vem comigo.

É comum vermos adolescentes bebendo escondido dos pais, da mesma forma que é muito frequente nos deparamos com um adultescente bebericando uma canha escondido dos filhos e, é claro, da senhora sua esposa.

Muitos adolescentes não têm a menor ideia do que irão fazer com suas vidas, mas são cheios de opinião sobre a vida dos outros e, é claro, a respeito dos caminhos que o mundo deveria tomar. Os adultescentes, por sua parte, continuam não sabendo o que fazer com suas vidas e, também, são cheinhos de opiniões sobre tudo e a respeito de todos.

Os adolescentes reclamam que querem ser ouvidos e compreendidos, afirmando de forma ranheta que ninguém os compreende, exceto, é claro, alguns dos seus que, em regra, são idênticos a eles. Os adultescentes também – da mesma forma que os seus similares que estão na flor da idade – deixam aflorar aos quatro ventos, digitais e analógicos, a sua condição de adultescente incompreendido. É um trem bonito de se ver. Mentira. É feio feito a peste.

Os adolescentes se esforçam para mudar a sua voz quando vão falar alguma coisa, porque querem parecer ter uma autoridade que anseiam conquistar ou, pelo menos, fingem para si mesmos querer um dia conquistá-la. Se um dia irão, aí são outros quinhentos. Os adultescentes, por sua deixa, forçam a voz quando vão dizer alguma coisa para, obviamente, parecer ter aquela autoridade que eles nunca tiveram; que não se esforçam para conquistá-la e que, possivelmente, jamais irão tê-la.

Muitos adolescentes querem porque querem parecer mais velhos do que são e, francamente, acho isso muito interessante. Já os adultescentes, não medem esforços para aparentar ter menos idade do que de fato tem e isso, sinceramente, não merece nenhum comentário.

Os adolescentes, de um modo geral, são reclamões. Tudo está ruim, nada está bom e, entre uma reclamação e outra, olham para o futuro e sonham com a vinda de dias melhores onde eles irão realizar os seus sonhos. Os adultescentes, também, com uma irritante frequência, acabam se portando feito um xarope, porém, esses não sonham com o futuro. Não. Esses, de forma saudosista, olham para o passado, dizendo para si que aqueles sim que eram bons tempos.

Nem o primeiro, muito menos o segundo, querem saber de encarar o presente, por isso procuram refugiar-se onde não podem estar.

Os adolescentes geralmente não entendem os adultos que vêm para o lado deles com aquela conversa toda sobre responsabilidade e blábláblá. Os adultescentes também não suportam a presença de um adulto, mesmo que esse seja apenas uma presença virtual e, de forma similar a um adolescente, eles acabam agindo de forma ranheta, babando na gola da camisa toda a sua indignação [criticamente crítica] para chamar a atenção de todos para sua enfadonha condição.

Enfim, poderíamos apontar aqui outros paralelos que existem entre a adolescência e a isso que chamamos de adultescência, mas aí essa escrevinhada também ficaria um porre. Por isso, já deu pra tampa; findamos por aqui, lembrando apenas que tanto uma como a outra condição demasiadamente humana tem cura. Tem sim senhor. E ela pode ser resumida nas palavras que foram, certa feita, dirigidas aos jovens por Nelson Rodrigues: basta que envelheçamos.

Isso mesmo. Envelhecer é preciso. Envelhecer e amadurecer para deixarmos de ser adolescentes e, é claro, para não mais agirmos feito um adultescente porque os porres, sim, fazem parte da nossa existência, mas eles não podem, de jeito maneira, ser a toada a ditar o ritmo de cada um dos dias de nossa jornada por essa longa estrada da vida.

 

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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