Gostaríamos de iniciar esse texto refletindo sobre a importância de ouvir. Quem sabe, em nossa sociedade, tenhamos ficado muito tempo a apontar o dedo sobre a sexualidade dita “divergente” e neste processo tenhamos perdido a noção de ouvir. Tendo isso em conta, as sexualidades e identidades sexuais gays, lésbicas, travestis, transexuais,
intersexos, assexuais entre outras, que não constituem necessariamente a norma heterossexual, faz com que corpos e subjetividades sejam subjugados e enlaçados em relações de poder violentas e excludentes.
Ao olharmos para a história, que nos sujeita à sermos vítimas de violência, sendo o Brasil o país onde há mais vítimas de assassinatos por questões de gênero, de crimes esses que inclusive até hoje não foram resolvidos. Nesse sentido, assumimos como fundamental a constituição de um espaço de escuta coletiva, para que as pessoas
LGBTTQIA+ de Guarapuava e região possam tornar evidente quais são as suas/nossas condições de vida, por meio de um questionário que decidimos publicizar.
A evidência de fatos como discriminação por orientação sexual e/ou de gênero nos toca, quando não podemos acessar integralmente, seja o mercado de trabalho, seja o atendimento digno por meio de políticas públicas. Com esse levantamento de dados, buscamos efetivamente organizar ações que atendam às demandas da comunidade
LGBTTQIA+ de nosso território.
Gostaríamos efetivamente que toda a sociedade se comprometesse, não apenas no mês em que comemoramos o Mês do Orgulho LGBT, com o fato de que discriminação e violência são crimes, e que nunca foi suportável viver sendo vítima de qualquer tipo de LGBTIAfobia. Com isso, buscamos fortalecer nosso ambiente de escuta, buscamos estar
próximas/es/os dos setores públicos e privados, e exigimos respeito por nossa vida em qualquer ambiente, e que qualquer ato de violência de gênero seja combatida no mesmo momento em que ocorre, seja no ambiente familiar, doméstico, público ou mesmo privado.
Deveria ser suficiente pedirmos por respeito, mas exigimos mais, que não venhamos a sofrer nenhuma forma de discriminação e que possamos continuar fortalecendo nosso espaço – o Coletivo Bajubá LGBTTQIA+ de Guarapuava -, como um espaço que, antes de tudo, defende a vida em sua diversidade, um espaço de troca e de aprendizado, um espaço que se faz necessário ainda, por ser um espaço seguro, de experiências de vida e criação artística, um respiro em meio aos olhares de desaprovação, um espaço de expressão das singularidades e de formação política, em meio à disciplinarização heterocissexista a que estamos expostas/es/os cotidianamente, quando as relações tendem, socialmente, a girarem apenas em torno das nossas sexualidades, sem que possamos expressar nossos
talentos tal como gostaríamos e poderíamos.
Quando falamos em RESPEITO, RESISTÊNCIA e ORGULHO, estamos falando de muito mais que isso. Estes termos, muitas vezes, esvaziados de sentido para pessoas que não são LGBTTQIA+, para nós estão carregadas de inúmeras gramaturas que atravessam nossas existências. Não estamos “pedindo” respeito, estamos exigindo e cobrando o que é nosso por direito. Não estamos “apenas” resistindo, acima de tudo, estamos EXISTINDO.
Não temos que nos esconder, redimir, nem nos envergonhar, como há muito nos é cobrado de maneira velada (ou nem tanto), temos orgulho de quem somos, ninguém tem o direito de nos deslegitimar enquanto sujeitas, sujeites e sujeitos.
Buscamos ocupar diferentes espaços, na política, no mercado de trabalho, na educação, na saúde, nas artes, nas mídias, e em todas as demais esferas da sociedade em que nossas existências seguem sendo negadas ou impossibilitadas de chegarem lá. E quando falamos disso, estamos falando em PODER viver e também mostrar o que nós também produzimos, criamos, pensamos, fazemos. Não estamos “apenas” resistindo a um sistema opressor, também estamos criando, subvertendo, teorizando e praticando nossas existências.
Também rimos, sentimos, pensamos, criticamos, produzimos ciência, produzimos cultura, etc. Também queremos ser lembradas/es/os para falarmos ou sermos referências em outras discussões e temas. Também queremos ver nossos trabalhos, nossas ideias, nossas artes, nossas pesquisas ganhando espaço. Esperamos poder contar com a
visibilidade de nossas lutas, mas também de nossas existências e produções, independente
de uma data específica.
Nós, Coletivo Bajubá, estamos neste momento iniciando um mapeamento municipal e distrital-regional da população LGBTTQIA+. Queremos saber em quais condições econômicas, sanitárias, sociais estas pessoas estão vivendo. Queremos entender como tem sido as vivências dessas pessoas, inclusive, ao buscarem os serviços públicos de nosso município. Queremos também saber o que querem, produzem, sentem e pensam.
O mapeamento é essencial, não apenas para o Coletivo Bajubá, ou ainda para as pessoas LGBTTQIA+ da nossa região, mas também para a administração pública, para o desenvolvimento de espaços e serviços que contemplem nossas existências, nas mais diversas expressões de gêneros e sexualidades. A visibilidade deste mapeamento regional é questão de responsabilidade e comprometimento social, pois é entender que RESPEITO, ORGULHO e RESISTÊNCIA são conceitos-chave que abrem diversas outras pautas, mas que acima de tudo, dizem respeito
ao desejo que cada LGBTTQIA+ tem de existir em sua máxima potência de vida, tendo suas existências respeitadas e reconhecidas, seus direitos garantidos, seus trabalhos remunerados, entre tantas outras coisas das quais as pessoas que não são LGBTTQIA+ nem ao menos sonham em se preocupar.
Aproveitamos para enviar a vocês um breve texto que poderá ser divulgado junto com o link e as informações sobre o mapeamento do qual comentamos. Convidamos também para nos seguir em nosso perfil do Instagram @coletivobajuba e a acompanhar nossas ações, mas também acompanhar a comunidade LGBTTQIA+ como um todo durante as quatro estações do ano.
Segue o link do formulário: https://docs.google.com/forms/d/1J3k3nr1vt3iFBPIQXz5aHAwc4eYU6DoqJ-zHRefhutk/edit
Coletivo Bajubá LGBTTQIA+ de Guarapuava
Guarapuava, julho de 2021.