Dias atrás seu Juvêncio estava assuntado com um rapaz que estava limpando um lote. Era seu vizinho. Indignado, o jovem ia capinando o terreno, arrancando todos os raminhos verdes indesejados que se apresentavam diante de suas ventas.

Ao vê-lo, o velho chegou junto da cerca e puxou conversa. “Buenas guri”! “Boa tarde seu Juvêncio”. “Dando uma caprichada no lote?” “É. Se não fizer isso daqui a pouco o mato está dentro de casa”. “Verdade. De mais a mais, uma boa carpida é melhor que fazer academia”. O rapaz sorriu e disse: “isso aqui é uma praga seu Juvêncio. Mas vou dar um jeito. Vou arrancar até a raiz de cada um dos matinhos e depois passar um veneno porreta pra não ter mais que ficar lidando com essas pragas. O senhor vai ver”. “E você pretende plantar o que nesse terreno?” “Nada. Quero apenas deixá-lo limpo”.

Seu Juvêncio não disse nada. Apenas sorriu, desejou uma boa tarde de trabalho para o rapagão e foi cuidar de suas lidas e, no caminho, ficou matutando sobre o que fora dito pelo jovem.

Qualquer um sabe muito bem que não há uma forma de liquidarmos de vereda com as ervas daninha. Todo aquele que decide cultivar o solo da vida, para colher bons frutos, precisará lidar com os inços que vez por outra aparecem. Agora, se não desejamos colher nada, basta que concretemos tudo que, talvez, isso não ocorra. Talvez, porque, como todos nós sabemos, mesmo fazendo isso, um e outro capim sempre encontra um caminho para crescer através do concreto.

E assim acontece com a vida da gente, pensava seu Juvêncio. Viver é cultivar. Pouco importa o que plantemos em nosso peregrinar por essa vida, se desejamos colher algo minimamente bom precisaremos lidar todo santo dia com as pragas que não descansam em suas tentativas de arruinar com os nossos planos. Pragas essas que não dão trégua.

Porém, pensou seu Juvêncio que, pela fala do rapagão, a impressão que se tem é que hoje em dia muitas pessoas não mais compreendem isso. Não aceitam essa obviedade ululante da vida. Por isso creem que podem extirpar todos os problemas de uma só vez e, provavelmente, essas tristes almas pensam e procedem desse modo, porque não querem saber do zelo indispensável para podermos cultivar algo no solo dos nossos dias, porque todos os dias são dias para trabalharmos em algo, por algo e para algo. Não tem escapatória, nem lesco-lesco.

Infelizmente, não são poucos aqueles que querem apenas viver feito um terreno baldio, sem frutos, sem nada e, ao mesmo tempo, sem os inconvenientes que surgem quando nada fazemos. E o pior de tudo é que essa é uma lição que vem sendo ensinada, todo santo dia, para as tenras gerações que, um dia, irão tomar conta de todos os dias que estão por vir.

(26/11/2020)

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela


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