Uma das virtudes mais admiráveis é a coragem que, nada mais seria do que um gesto extremo de amor.
Todos, com certeza já ouviram – e cantaram – aquela canção inspirada no Santo Evangelho que diz que prova de amor maior não há que entregar a vida pelo irmão, canção que de maneira singela resume numa imagem simples o quão poderosa é a união do amor com a coragem que, francamente, bem lá no fundo acaba sendo a mesmíssima coisa.
Amor é isso, doação graciosa, desinteressada, e que se rejubila em saber que está realizando um sacrifício extremo pelo bem daqueles que ama.
Quem ama não procura holofotes para exibir seus gestos amorosos, muito menos cobra daqueles que ama alguma forma de gratidão pelo ato despendido. Ele apenas faz o que deve ser feito, faz aquilo que somente ele pode fazer por seus amados, pouco importando se será ou não agraciado com um “muito obrigado”.
Um bom exemplo dessa boniteza humana é a fala de um dos mineiros que trabalhou para conter a radiação no acidente ocorrido na usina nuclear de Chernobil, em 26 de abril de 1986. Diante da tarefa sem volta que lhe fora incumbida por um burocrata, disse-lhe o mineiro, laconicamente, algo mais ou menos assim, batendo com a mão no seu antebraço: nessas veias correm mil anos de história de sacrifício do nosso povo. Cada geração tem a sua cota pra carregar. Essa é a nossa. Vamos carregá-la.
Se não fosse por inúmeros homens como esse mineiro, anônimos perante a história, possivelmente não estaríamos conversando agora, através dessas linhas mal escritas.
Por essas e outras, penso que é de suma importância não confundirmos amor com bom-mocismo.
Uma coisa é falar em nome dos desvalidos da terra, dos necessitados e injustiçados, com aquele ar de indignação ideologicamente deformada; outra, bem diferente, é simplesmente preocupar-se com o próximo, e fazer algo por ele, sem transformar a desgraça alheia numa bandeira política a ser explorada, instrumentalizando o sofrimento dos outros em favor duma ideologia política que, efetivamente, nunca fez bem a ninguém, apensar de se apresentar como sendo a detentora monopolística de todas as virtudes.
Sim, isso é uma canalhice sem par, mas, infelizmente, nós nos acostumamos a ver e ouvir grupos de pessoas, falando em nome de terceiros, ou de todos, sem de fato se importar com a vida das pessoas reais, de carne e ossos.
Tais almas idolatram as boas intenções que elas mesmas têm para com os excluídos de todos os mundos, mas não amam o suplicante que, muitas vezes, está ao alcance do seu olhar.
Para elas a única coisa que importa são as hipotéticas intenções delas. Intenções que, praticamente, nunca pavimentaram nada, a não ser um largo caminho para aquele lugarzinho.
Na verdade, dá-se a impressão de que essas figuras têm um ódio muito maior àqueles que, vendo o mundo fora de sua amada caixinha ideológica, tentam, de maneira discreta, fazer algo de bom pelos desprotegidos desse mundo, do que o amor que elas dizem ter por aqueles que sofrem.
Enfim e por fim, não permitamos que ideologia alguma nos desensine o que é o amor e arranque de nosso peito a coragem de amar.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, 16 de maio de 2020, dia de São João Nepomuceno