Francisco Carlos Caldas

       Quando criança, narrativas de assombrações (visagens) e histórias do Pedro Malasarte,  e  de folclore nos fascinava e ainda fascina.

        Pedro Malasarte, é um personagem da cultura portuguesa e brasileira.

        Do filme de 1960, as Aventuras do Pedro Malasarte, de Mazzaroppi, cenas do mesmo, vendendo tacho como se cozinhasse comida sem fogo; árvore que dava dinheiro no lugar de folhas; rabinhos de animais, colocado no atoleiro como se fossem animais atolados; a  astúcia para  que o libertassem de um saco amarrado, com a história de que estava ali naquela situação porque não queria casar com a filha do rei; a apropriação feita de uma charrete de uma senhora fazendeira, com invencionice de  que debaixo do seu chapéu havia um passarinho furta cor, valioso e raríssimo e que só tinha 3 no Brasil, e os 3 eram machos; a engambelada que deu em São Pedro e nó até na morte.

        Malasarte era um malandro, sábio, sedutor, astuto, uma espécie de herói, cheio de artimanhas, sem escrúpulos, mas com ares de bom sujeito.

        Meu pai, quando nós estávamos sem fome, e enjoado com comida, dizia que o que faltava era o molho do Malasarte, ou seja, o problema era mesmo falta de enxada, trabalho, para se ter fome e apetite.

         Na minha adolescência em Guarapuava, filmes do Amácio Mazzaropi, que viveu nos anos de 1912-1981, no Cine Guará, lotavam e faziam filas na rua para ingresso, como um que assisti “Uma pistola para Jeca”. Alguns outros filmes de Mazzaropi: Sai da Frente, Candinho, Jeca Tatu, A tristeza do Jeca, Casinha Pequena, Jecão um fofoqueiro no céu.

         A figura de Pedro Malasarte, incorporada no Mazzaropi, remete a nossa memória para um caipira, caboclo, esperto, que usa de todo tipo de astúcia e malandragem para sobreviver, e que acaba tendo êxitos e a simpatia popular.

         Isso nos remete a uma analogia, com o que ocorre nas relações do povo com os políticos de sempre e hoje, em que parece e se tem a forte impressão de que as massas gostam dos que são espertos, dos astutos em enganação, que o diga, o Poder que já foi dado ao médium de Abadiânia-GO, João de Deus; votações em  Paulo Maluf, os golpes que ainda dão, do Conto do Vigário, do Bilhete Premiado, de depósitos em dinheiro para receber algum prêmio ou um empréstimo, e até a prática do “me engana que eu gostio”.

          Ano eleitoral, afloram Malasartes em tudo que é canto e lado, e ainda os mesmos continuam tendo muita voz e vez,  e patrimonialismos, venda de benesses, generosidades, vantagens, privilégios, e amor imensurável ao povo imperam, mas depois de votos recebidos, muitos mudam da água para o vinho, da prata para a lata, do ouro para o couro, e coerência de falas vira palavrão.

          O  “jeitinho”, a improvisação, a criatividade, a jinga, jogo de cintura, faz parte da cultura e características, daí, a figura do Malasartes, ser simpática.

           Pinhão, têm muito Malasartes, mas também muita gente boa, competente e dedicada,  com potencial de enfrentamento e vencer malandros, demagogos, estelionatários e meliantes que tentam se passar por políticos da política verdadeira, da supremacia do interesse público, das virtudes, eficácia e eficiência e outros princípios e valores do gênero. 

            (Francisco Carlos Caldas, advogado, municipalista e cidadão).

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