Recentemente, a professora Ana Caroline Campagnolo, deputada federal eleita pelo Estado de Santa Catarina, sugeriu que os alunos utilizassem os seus aparelhos celulares para filmar os professores que agissem como doutrinadores e/ou coagissem os infantes, tentando, desse modo, lhes impor as suas concepções políticas/ideológicas.

É claro que a proposta da referida professora gerou o maior escarcéu e, sou franco em dizer, por razões totalmente equivocadas.Bem, dito isso, explico-me: de minha parte, não há problema algum se um aluno assim proceder, haja vista que tenho por hábito gravar o áudio de todas as minhas aulas e as forneço para os meus alunos.

Não tenho nada para esconder. Isso não me escandaliza não. Nem um pouco.Todavia, há algumas questões que não estão, a meu ver, sendo devidamente perscrutadas diante do que foi proposto pela referida professora. Questões as quais, sou franco em dizer: deveriam.

Questões essas que vão muito além da inculcação de preceitos ideológicos marxistas em sala de aula e que são do interesse tanto dos pais como também e principalmente dos professores (não, é claro, dos educadores doutrinadores e dos genitores desleixados que fingem interessar-se pela educação dos seus filhos).Se formos maduros o bastante, ou tão maduros quanto presumimos ser, penso que deveríamos acatar na lata a proposta apresentada pela referida professora/deputada.

E o deveríamos por duas razões bem simples.A primeira seria extremamente óbvia. É aquela que reza o ditado popular que diz que quem não deve, não teme. Simples assim.A segunda razão seria a de que tal prática, a de filmar uma sala de aula, pelo que conheço do ambiente educacional brasileiro, acabará por revelar uma outra face que, infelizmente, o movimento Escola Sem Partido, os sindicados, a SEED e tutti quanti, não estão procurando atinar os seus olhos devidamente.

Face a qual seria a da crise de legitimidade que se faz presente no espaço escolar, a perda da autoridade professoral que, em grande parte, se deve, as mudanças legislativas que foram operadas nas últimas décadas em nosso país pela adoção de concepções pedagógicas equivocadíssimas.Parêntese.

Mudanças essas inspiradas em grande parte nas patacoadas pedagógicas do patrono da educação de nossa triste nação. Fecha parêntese.As cenas de balburdia em sala de aula são, infelizmente, extremamente frequentes. A apatia em misto com uma petulância sem par também o são e andam de mãos dadas com o desdém pelo estudo que é manifesto por uma massa de indivíduos que além de não cultivarem o menor respeito pela pessoa do professor, perturbam e desmotivam aqueles indivíduos que lá estão para aprender.

Francamente, de minha parte sugiro que cenas como essa também sejam filmadas e encaminhadas para a referida ONG, aos sindicatos, para a SEED e bem como para todas as almas cândidas que tanto se preocupam com a educação e, desse modo, possam ter outros subsídios para refletir sobre essa dimensão da realidade escolar que é tão cinicamente desdenhada por autoridades constituídas e mentes diplomadas.

Outra cena que, também, apareceria frequentemente documentada nas possíveis filmagens é a de professores perdendo boa parte do tempo de suas aulas chamando a atenção de alunos displicentes para que se aquietem e, desse modo, poderem prestar a devida atenção na explicação que seria proferida e, depois, para poderem realizar as atividades propostas ou, quem sabe, fingirem que estão fazendo uma coisa e depois a outra.

Como eu disse, não sou tolo e não nego que exista o problema da inculcação de preceitos materialistas, hedonistas e niilistas no sistema educacional brasileiro, não mesmo. Mas isso não começa na sala de aula de ensino médio e fundamental. Isso está muito além dela.Na verdade, o espaço escolar apenas reflete as consequências das ideias e concepções de mundo que deram forma as políticas públicas na seara da educação nas últimas décadas em nosso país.

Para percebermos e compreendermos a gravidade disso, basta que acessemos e leiamos os materiais que foram sugeridos para as formações continuadas de docentes da rede pública estatal para constatarmos onde nasce toda essa loucura que se assenhora hoje em nossas escolas. Basta que ouçamos o que muitos doutos em matéria de educação dizem sobre o assunto e, bem rapidinho, entenderemos que o que é reproduzido em sala de aula por um professor inculcador é apenas aquilo que é sugerido pela própria SEED, pelo MEC e aplaudido pelos sindicatos em grandessíssima medida.

Concepções essas que, ao seu modo, inspiraram as normas e regras que ordenam o sistema educacional e, sem querer querendo, acabaram usurpando a autoridade da direção das escolas que se veem de mãos amarradas diante de atitudes profundamente antissociais manifestas por um e outro aluno que, com seus atos, negam o devido acesso à educação formal para uma multidão de alunos que realmente anseiam por isso, por uma oportunidade.

Essas são as mesmíssimas concepções que usurparam a autoridade do professor que tem muitíssimas vezes o resultado de seu trabalho desautorizado ao final de um ano letivo por uma penca de subterfúgios, tais como a famosa aprovação por conselho de classe ou o famigerado reconselho (a piada pronta). Subterfúgios esses que assombram o ano letivo do princípio ao fim e, consequentemente, maculando o processo educacional.Tais usurpações, que geraram esse ambiente inapropriado para educação, coagem muito mais um professor no exercício de seu trabalho do que a câmera dum celular.

O problema é que, mais uma vez, como já se tornou costume nessas terras de Pindorama, grupelhos políticos fanatizados estão se utilizando da educação, dos professores e dos alunos como instrumento para fazer uma briga política que, literalmente, não tem nada que ver com uma sincera preocupação com a finalidade primeira da educação e muito menos por apresso ao professorado.

Penso eu que está mais do que na hora darmos um basta nisso. Sim, um basta na inculcação ideológica, mas também um basta à desautorização dos professores em sala de aula, ao desempoderamento das direções escolares, um basta na indisciplina e na petulância juvenil que são celebradas, pelos doutos doutrinadores, como se esses vícios fossem uma excelsa manifestação de virtude cívica que, juntas e misturadas, infelizmente tornaram-se praticamente a pedra angular do sistema educacional que, por incrível que pareça, nega justamente aquilo que muitos dizem defender aos infantes.

Nega a possibilidade deles poderem crescer intelectual e moralmente como indivíduos dignos, prestativos e bons.Por isso, digo e repito: apoio, sim, o Escola sem Partido, mas penso que seu olhar deveria se tornar mais amplo para melhor compreender os dramas que são vividos em sala de aula por muitos alunos que querem aprender e, por muitíssimos professores, que apenas sonham em dispor de um ambiente propício para poderem ensinar.

Por fim, há outros pontos que gostaria de abordar sobre o problema, mas, “sacumé”, está na hora dum bom café.

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