Por Dartagnan da Silva Zanela

Regra número um para sermos feitos, a torto e a direto, de idiotas: imaginarmos que não podemos ser feitos de trouxas por pessoas que consideramos menos aquilatadas que nós. Por isso, entre outras coisas, somos uma nação formada majoritariamente por tontos que se consideram os bichos críticos da goiaba. Mas isso é o de menos.

O que realmente tornou-se gritante entre nós é esse senso postiço de superioridade que muitos – cada qual ao seu modo – gostam de exibir diante dos furdunços que, de tempos em tempos, resolvem colocar tudo abaixo. Sobre esse tipo de impostura a cultura popular brasileira nos brinda com inúmeros gracejos. Gracejos esses que, por questões óbvias, não podem ser contados aqui nessas linhas porque todos eles, de um modo bem maroto e picante, nos retratam o ridículo cabal que impera entre nós.

O ridículo de querermos contar vantagem quando estamos ferrado de verde e amarelo. Tal impostura – a de querer parecer superior a todos só porque defende essa ou aquela ideologia, ou porque integra esse ou aquele grupelho político – acaba sempre sendo fruto duma soberba inconfessada. E isso é batata. Ora bolas! O que há de tão absurdo em ter sido, uma vez ou outra, feito de bobo?

O que há de tão inumado em ter sido enganado? Será que só eu que sou tongo nessa terra de príncipes do saber e dos semideuses diplomados? É. Vai ver que sim e, por isso, Fernando Pessoa sabia muito bem o que estava a versar quando escreveu o seu “Poema e linha reta”. E vejam só: se até o grande Platão pagou mico, porque os “bem pensantes” do Brasil contemporâneo não são capazes de reconhecer, aqui ou acolá, que eles, em muitíssimos casos, cometeram uma sucessão de equívocos e patacoadas em suas “análises”?

Isso mesmo! A resposta é bem essa mesma. Por que nós, reles mortais, pessoas de bem sem muitos bens, não admitimos para nós mesmos que estamos – diante das tretas contemporâneas – mais perdidos que cachorro caído dum caminhão de mudanças? Por quê? Talvez, penso eu, o livro do Eclesiástico nos ajude a encontrar uma resposta para essas inquietações, se estivermos disposto a encontra-la, é claro.

Além disso, é importante levarmos em consideração que no Brasil, dum modo geral, confundimos com muita facilidade falsa modéstia com humildade, bom-mocismo com virtude, e assim por diante, porque consideramos a imagem de bondade como se ela fosse o próprio bem e, também e principalmente, porque julgarmo-nos criaturinhas maiores e mais profundas que toda a realidade.

Esse tipo de devaneio é tal que, em muitos casos, o sujeito imagina que tudo poderia facilmente ser explicado pela sua douta ignorância – seja ela diplomada ou não. Ignorância essa que, num processo sem fim de mútua paparicação entre iguais, faz o sujeito presumir que estaria acima do bem e do mal. Pior! Na verdade, tais firulas acabam levando o sujeito a considerar-se o próprio critério de distinção entre o que é bom e o que não é.

Por isso, e muito mais, somos feitos frequentemente de bobos e, mesmo assim, saímos contando vantagem do ridículo sofrido para, desse modo, não termos que olhar de frente a triste verdade sobre nós mesmos. Enfim, somos uma nação crítica, tão crítica, que não somos capazes de enxergar o próprio fracasso que tanto insiste em subir em nossa cabeça.

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