Por José Carlos Correia Filho*
De 2014 para cá, tenho observado um processo bastante preocupante no Brasil, principalmente em redes sociais, e tanto na esquerda quanto na direita (apesar de que não há direita ou esquerda “puras” sendo defendidas no nosso país). Em qualquer publicação, seja particular ou de órgãos de imprensa, logo algum individuo acaba sendo rotulado de “esquerdista, petista, mortadela” ou, do outro lado, de “coxinha, mimado, pobre de direita,” e outros adjetivos estereótipos.
Fica clara uma tentativa de diminuir o outro, em nome de uma grande figura central, um ídolo, os quais não irei citar nomes já para evitar algum mal-entendido da parte daqueles que defendem cada um desses “personagens”. Todos sabem que a coisa toda se polariza hoje em dois nomes principais.
É claro que a popularização das redes sociais levou muita gente a aventurar em expressar posições políticas, e isso é ótimo, uma grande conquista da Democracia e do exercício da cidadania. Mas há um detalhe a ser observado de forma muito cuidadosa: o que vemos hoje não são discussões abertas e respeitosas acerca de IDEIAS, PROPOSTAS, PROJETOS DE PAÍS. O que há, na minha modesta opinião, é um fanatismo político, uma idolatria em torno de nomes, uma exagerada adoração a nomes.
As pessoas parecem cegas de si mesmas, da realidade de nossa Nação, dos problemas que nos afligem e aos nossos semelhantes, para apenas contemplar uma figura central política. Parece que se prefere adorar a políticos do que se pensar em políticas públicas que atendam às demandas populares. E isso é algo deplorável, é de um reducionismo absurdo. Discurso de ódio, uma disputa inútil entre “torcidas organizadas” de políticos, agressões, xingamentos, frases feitas e respostas vazias não vão melhorar nosso país.
Vemos indivíduos totalmente cegos, com olhos apenas para o seu candidato favorito, que quase nunca é tão santo assim; cegos para enxergar o direito fundamental do outro ter outra visão de mundo, e de ser respeitado em suas posições. Cegos para um fato historicamente inegável no Brasil: de que mudam os nomes na política brasileira, mas para o povo quase nunca muda nada, pois os interesses acabam sendo muito parecidos seja lá quem for o eleito
Para mim, discutir sobre pessoas é empobrecer o debate. Que tal falar em propostas? Que tal falar do que será feito e como será feito para melhorar a nossa vida? Já dizia o grande Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”. Devemos enxergar melhor e deixar a idolatria de lado para analisar a situação no país como um todo. Ampliar o alcance do debate, deixar de ver a política como uma corrida de cavalos onde alguém para quem eu torço tem que ganhar. Que tal direcionar o debate para formas de o povo ser o vencedor?
As pessoas se interessam em saber se a sua posição política irá vencer. Ambos os lados estão voltados para a mesma direção, porém, essa idolatria política deixa a visão dos indivíduos distorcida para o mais necessário, o bem comum do povo.Não se importam se há irregularidades com seu “ídolo”, não se importam se o discurso político tem uma quantidade de ódio, acham até bacana quando o candidato sai desrespeitando indivíduos da oposição. Vale tudo para “vencer quem pensa diferente”. Para quê?
É impressionante ver cidadãoscom coragem de sair gritando e cantando o nome de um candidato, se matando por um político e xingando quem não está do seu lado. Mas e as propostas? E as soluções concretas e possíveis de virarem realidade? Que tal sermos mais produtivos, ao invés de simples fantoches brigando por causa de nomes?
Os poderosos agradecem se seguirmos nessa coisa ridícula de brigar por causa de nomes de políticos como se fossem salvadores da Pátria, para eles está ótimo: fiquem cegos, contemplem ídolos, percam a capacidade de viver no mundo real, se lancem uns contra os outros em nome de seus ídolos.
Não seria essa uma armadilha deles mesmos para separar a população em grupos para assim facilitar o seu controle, desviar o foco, deturpar a realidade, dar seguimento ao projeto nefasto de um país que não atende aos seus cidadãos? Pensemos nisso, e paremos de falar de pessoas. Vamos falar em propostas? Vamos falar de ideias?
*Professor de História