Dificilmente alguém não viveu essa situação que você está passando hoje.
Se está tudo dando muito, muito errado na sua vida, pode olhar para os lados, perguntar para duas, no máximo três pessoas, que você vai achar, com certeza, alguém que passou ou está passando por situação igual ou pior.
Pesquise.
Se não tiver coragem de perguntar aos amigos, porque a situação está de dar vergonha, vá ao Google e procure as palavras chaves, garanto que você encontra.
“Pra que fazer isso?”
Ué, pra você ver como as pessoas saíram da situação.
Vai que tem uma receita, uma fórmula mágica.
Ou então ao menos o relato de que a pessoa saiu toda estropiada da história, mas saiu.
No sei você, mas eu gosto de saber que, mesmo estando até o pescoço no perrengue, alguém já passou por isso e sobreviveu.
Isso me dá força para continuar tentando.
Eu penso assim:
“Não deu certo desse jeito, mas quem sabe desse outro jeito dá. Ele saiu, eu também posso.”
E, assim, lá vou eu pela estrada a fora.
Agora, e gente que está com a vida que pediu a Deus, com tudo dando certo, direitinho e se mete em confusão sem necessidade?
Já viu gente assim?
A Criaturinha está andando por um caminho largo, bonito e florido: tudo dando certo no trabalho, sucesso, família feliz, morando bem, salário bom, reconhecimento e admiração de todos, até que…
Até que, de um minuto para o outro, parece que a Criaturinha em questão é picada por um mosquitinho podre.
Mosquitinho podre?
É!
Só pode ser a picada de um mosquito todo podre.
Porque, de uma hora para outra, sem ter nem pra quê, a pessoa começa a achar que está faltando alguma coisa.
Tudo bem, a insatisfação é algo inerente ao ser humano.
Os entendidos dizem que, conforme o homem vai tendo suas necessidades atendidas vão surgindo outras e mais outras que ele deseja suprir.
É normal.
Mas a Criaturinha começa a esticar o pescoço e olhar além do caminho florido.
Naquele mundinho encantado e colorido, não tem tudo que ela deseja. É preciso ir além, alargar as fronteiras.
Já que a necessidade existe, então, vai logo!
E lá vai ela.
Deixa para trás a segurança do que lhe é conhecido e parte para se aventurar por estradas nunca antes caminhadas.
Quando alguém mais experiente a vê se afastando, andando longe, procurando o que não guardou, dá o alerta:
“Criatura, aonde você pensa que vai? Está procurando o quê?”
A pessoa é adulta, acostumada com o caminho largo, bonito, florido, onde tudo dá certo, com sucesso, boa moradia, dinheiro, reconhecimento, admiração. Ela soube escolher os caminhos que a trouxeram até aquele momento.
Sendo assim, indigna-se:
– Sei muito bem o que estou fazendo, sei exatamente o que procuro.
Quem já assistiu a diversos filmes com o mesmo roteiro continua tentando alertar:
“Aqui onde você vive não tem o que procura? É preciso mesmo se aventurar em terra desconhecida? Quem andou por aí onde hoje você está achou o que procurava, mas também encontrou muitos problemas. É melhor voltar enquanto há tempo.”
A Criatura, adulta e dona de si, esbraveja:
– Do jeito que eu quero só existe aqui. Vai dar tudo certo, mas se acontecer algo errado, eu volto, não se preocupe.
“Cuidado, Criaturinha, você pode não ter para onde voltar!”
Isso aí é uma coisa que me deixa completamente indignada: quando tudo está mal, a pessoa até no Google procura um jeito pra saber como sair do atoleiro, agora quando as coisas estão todas certinhas, encaminhadas, com tudo para dar cada vez mais certo, a mesma Criatura vai procurar o que não guardou, onde não deixou nada e aí…
Aí, recebe conselhos.
Esses conselhos sempre vêm de quem sabe mais, mas quem sabe mais é tão fácil de deixar pra lá.
Geralmente é alguém próximo que está ao alcance das mãos o tempo todo. Aí a Criaturinha acaba racionalizando:
“Quer me manter por perto, só isso. Posso deixar seus conselhos aqui ao lado e continuar por esse caminho novo.”
E vai toda serelepe pela estrada afora.
De vez em quando, ainda ouve ao longe:
“Criaturinha, cuidado, ir por esse caminho pode ser perigoso. Procurar o que não guardou pode te fazer perder tudo o que conquistou.”
Mesmo assim continua.
Até que…
Até que a Criaturinha encontra o que não havia guardado, pega pela mão o que encontrou, traz para o caminho florido e vive felizpara sempre.
Ou…
Eu não sei te dizer o que pode acontecer no “ou”.
Coisas não tão incríveis, quem sabe…
Aventurar-se por caminhos desconhecidos pode trazer maravilhosas conquistas, descobertas magníficas.
Nisso não há o que discutir.
Mas ignorar completamente a voz de quem já estava na estrada quando você lá chegou pode ser perigoso.
Afinal de contas, não é que quem aconselha “adivinha o futuro”, longe disso. Mas é que algumas histórias sofrem poucas variações no roteiro e, como o conselheirojá viu muitas histórias ao longo da vida…
Por isso, Criaturinha, aventure-se sempre, mas mantenha os ouvidos emente atentos, conselho bom previne ruína.

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

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