Com você já aconteceu de gostar muito de alguém de longe e, ao chegar perto, se decepcionar grandemente?

Sei lá, uma amiga do trabalho que você acha simplesmente o máximo aí, depois de vários e vários almoços durante a semana, resolve convidar para um churrasco de domingo.

O motivo?

Para que a sua família da qual você tanto fala possa conhecer a família dela da qual você tanto ouve falar.

No churrasco, a interação é completa, assim como você e sua amiga, as crianças se acertam, os maridos rapidamente desenvolvem um papo legal e vocês saem dali já com um próximo encontro  marcado.

As saídas se repetem com sucesso e os laços de amizade se fortalecem.

Até que, depois de um longo período de mil e um encontros, resolvem marcar uma viagem.

Coisa rápida, apenas um feriado, viagem curta.

Vão todos felizes e saltitantes.

Na volta ao trabalho, não há mais amizade nem mesmo para uma reunião profissional.

A coisa foi tão feia que há medo de que não exista nem mesmo a civilidade.

Uma de vocês consegue mudar de unidade e, a partir de então, nunca mais se veem.

O que aconteceu?

Chegaram perto demais.

Vocês e suas famílias sentiram o perfume dos cabelos uns dos outros e tudo o mais que a proximidade trás.

Sentiram e não gostaram.

Chegar perto demais, estreitar a convivência, é sempre perigoso.

Existe o perigo de que, ao descalçar os sapatos, descer do salto e começar a andar de pé no chão, esse desmonte das formalidades traga transparência demais.

Algumas pessoas não suportam ver o outro como ele realmente é.

É que alguns vivem um personagem tão bem elaborado e construído na vida profissional e social, mas são completamente diferentes na intimidade.

No círculo íntimo, não são nada daquilo que vendem lá fora e, por isso, você que vive no círculo maior, ao entrar na intimidade, se assusta e, aí, não quer mais fazer parte é de nenhum.

Realmente, chegar perto demais é muito perigoso.

Tem o grande perigo também de se admirar a pessoa profundamente e, ao chegar mais perto, descobrir que ela é muito mais incrível do que parecia ser.

Dia desses, li o depoimento da esposa de um amigo no dia do seu aniversário que me deixou muito feliz: ela falou mil e uma qualidades do cara e entre elas disse mais ou menos assim:

“Ele é aqui em casa exatamente do mesmo jeito que é na comunidade.”

O moço em questão é líder de uma comunidade grande, onde é conhecido pelo seu bom humor, alegria e sorriso fácil.

Achei que a declaração da esposa serviu como um certificado de qualidade: “O “produto” se comporta da mesma maneira em todos os ambientes”.

E isso não tem preço!

Saber que uma pessoa que você acha bacana e admira é admirável até mesmo quando o caos se instala é demais de bom!

Não estou falando que a vida do moço é um caos, claro que não.

Estou falando, que dentro de casa sempre tem arranca rabo, um contra tempo, dias nublados e, mesmo assim, lá no escondidinho, de pé no chão, a criatura é “exatamente do mesmo jeito” que é na rua.

Muito bom saber que a propaganda não é enganosa.

Aí, parei para dar uma olhada para minha pessoa.

Será que as pessoas que chegam perto de mim se agradam com o meu perfume? Será que gostam do cheiro dos meus cabelos ou têm vontade de sair correndo?

E com a sua pessoa?

O que acontece?

Feliz aquele que, ao deixar que dele se aproximem, mostra ao mundo que é melhor, bem melhor, mais cheiroso e confiável do que aquilo que pensavam que ele fosse.

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

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