Liliana Porto

Professora Pesquisadora da UFPR

Em 2017, o jornal Fatos do Iguaçu completa vinte anos de existência. O que nos faz refletir sobre a relevância de um trabalho cotidiano de conhecimento e divulgação dos acontecimentos, opiniões, informações importantes dos municípios de Pinhão e Reserva do Iguaçu. Afinal, a força dos grandes meios de comunicação e das mídias digitais levou à extinção de inúmeros jornais impressos por todo o país. Mas o Fatos sobreviveu, adaptando-se às novas mídias, mantendo sua autonomia e garantindo a esses dois municípios o acesso a um semanário com produção própria, não uma voz que replica a visão hegemônica.

A relevância do Fatos para Pinhão e Reserva, no entanto, transcende a informação. Ela permite aos moradores locais o acesso a uma forma de amplificação da sua voz na luta por direitos desconsiderados ou descumpridos pelos poderes constituídos. Um exemplo foi a pavimentação da rodovia PR-459, como me relataram vários dos entrevistados durante minha estadia em Pinhão no mês de outubro.

Nos últimos dias, gostaria de destacar a cobertura e questionamento das autoridades que vem fazendo o Fatos sobre as lamentáveis ações violentas que sofreram os moradores do Alecrim por parte do poder público e da madeireira Zattar (evidências de como a Justiça pode ser obviamente injusta). Também a respeito das ameaças que pairam sobre centenas de famílias do interior de Pinhão. Enquanto a grande imprensa mantém o silêncio. Acontecimentos e situações que nos entristecem, mas que precisam ser divulgados para que a sociedade compreenda que não se pode ficar indiferente a atos abusivos, que aqueles que os cometem devem responder por eles. O Fatos, ao noticiar, garantiu visibilidade a esses abusos e buscou respostas. O que, com certeza, continuará fazendo no sentido de contribuir para que direitos ao território de comunidades tradicionais não sejam ignorados ou desrespeitados pelo poder público.

Por todos esses aspectos venho aqui parabenizar ao Fatos por seus vinte anos. Comemorar, apesar do árduo momento atual, que se possa contar com um órgão de imprensa independente, disposto a apoiar a luta por direitos, bem como divulgar os eventos, as opiniões, o dia a dia local. Foi a seriedade deste trabalho que motivou o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná a propor que as edições digitalizadas do Fatos do Iguaçu passassem a compor o acervo documental do MAE. Facultando aos pesquisadores de Curitiba a consulta a tão relevante material de pesquisa. Obrigada Nara, Nilse e Naor pela parceria. Desejo, não apenas pessoalmente, mas como pesquisadora e professora, que continuem brindando as gerações presentes com seu trabalho de produção e divulgação de informações e opiniões, e as gerações futuras com um material que poderá falar sobre Pinhão e Reserva nos nossos tempos.

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