Por Dartagnan da Silva Zanela (*)
(i) Cabeça de esquedopata radical chique é mais ou menos assim: feminazis podem introduzir crucifixos e rosários nos seus orifícios anais? Podem sim. Fazer isso seria apenas um protesto e uma manifestação estética. Fantasiar-se de Papa Bento XXIV e usar no lugar da Eucaristia uma camisinha pode? Pode sim. Isso seria apenas uma manifestação de diversidade cultural. Cuspir e defecar na fotografia de desafetos parlamentares numa via pública e convidar os transeuntes a fazer o mesmo pode? Claro que pode! Isso seria apenas um legítimo e salutar exercício de cidadania. Invadir prédios públicos e atear fogo neles pode? Claro! Tal prática seria uma forma legítima de lutar contra um governo golpista. Receber grana de empreiteira pode? Pode sim. É uma forma discreta de lutar contra o “capetal” usando o próprio “capetal”. Agora, um cidadão pode esculachar, num ato de desobediência civil, um parlamentar que quis melindrá-lo com uma notificação por causa de um e outro twitter de sua autoria? Ah! Aí não pode não. Isso aí é fascismo do bravo.
(ii) Um dos grandes problemas do Brasil é que os comediantes são levados a sério, quando não deveriam, haja vista que eles são o que são. Por sua deixa, muitas de nossas autoridades não sabem agir de modo sério, quando deveriam, haja vista que essas não são o que deveriam ser.
(iii) É sempre importante lembrar que no Brasil atual a hipocrisia não é um problema não porque, o que realmente impera entre nós a o cinismo rasteiro e calhorda que não se envergonha em num pouco do mal que faz a nação e que, inclusive, se ufana de assim proceder.
(iv) Lembram do Salman Rushdie autor do livro Os versos Satânicos? Pois é, na época o Aiatolá Khomeini o transformou no alvo duma fatwa, nos seguintes termos: “[…] informo o orgulhoso povo muçulmano do mundo inteiro que o autor do livro Versos Satânicos, que é contrário ao Islã, ao Profeta e ao Corão, assim como todos os implicados em sua publicação e que conhecem seu conteúdo são condenados à morte”. Resumindo o entrevero, o escritor foi jurado de morte porque os brios islâmicos foram ofendidos com a dita cuja obra literária. Por essas e outras que eu não tenho muito dó de gente ofendidinha não, principalmente se seus brios são politicamente corretos. O que eu tenho dessa gente é medo, pois, seja para os ultrajados de antanho, seja para magoados modernosos, não há limites para eles se sentirem agravados e pedirem a cabeça dos seus desafetos ao mesmo tempo que posam de vestais da tal democracia. Sobre esse ponto, vale lembrar o que certa feita fora declarado pela Corte Europeia de Direitos do Homem. Diz ela que “a liberdade de expressão vale não apenas para as informações ou ideias acolhidas com favor, mas também para aquelas que ferem, chocam ou inquietam o Estado ou uma fração qualquer da população. Assim o querem o pluralismo, a tolerância e o espírito de abertura, sem o qual não existe sociedade democrática”.
Enfim, seja como for, penso eu que os ofendidos deveriam deixar essa sua sanha totalitária de lado e aprender o mais rápido possível a serem mais espirituosos se quiserem continuar a posar perante todos com essa sua velha e surrada imagem de alminhas democráticas porque, desse jeito, ninguém mais engole esse trololó não.
(*) Professor, cronista e bebedor de café.