Por Dartagnan da Silva Zanela (*)
(i) Houve um tempo, não faz muito, que o céu era um alento para as pessoas que, ao cair da noite, contemplavam as estrelas entregando-se aos mistérios que suas piscadelas que inspiravam todo aquele que deleitosamente entregavam-se ao seu espetáculo silencioso. Atualmente, ao contrário dos tempos de antanho, vivemos com nossos olhos voltados para altura de nosso umbigo, para a tela luminosa dum brinquedinho eletrônico que suga uma porção significativa de nossas horas e um bom tanto do elã de nossa vida. Enfim, diferentemente dos outros animais, nós éramos a únicas criaturas que contemplavam o firmamento e hoje, tais quais todas as bestas, ignoramos a sua celestial presença tendo os olhos voltados para a viseira eletrônica que voluntariamente passamos a carregar em nossas mãos.
(ii) A perenidade das palavras não nos garante a eternidade dos aplausos que massageiam nosso ego [envaidecido] através do regozijo que nos é ofertado pela efemeridade dum momento. Fiar a vida nesse passo, com uma ilusão no horizonte a nos guiar, é, no mínimo, uma grande temeridade, mas que, na atualidade, tornou-se praticamente a regra que rege o cambaleante andar da nossa desfibrada sociedade.
(iii) As crianças e adolescentes, hoje, dum modo geral, de tão podres de mimados que estão, devido à desídia dos adultos responsáveis por sua educação, acabaram se tornando criaturas incapazes de empatia e almas desprovidas de atos que não seja egolátricos.
(iv) Coerência, constância e consequência. Três palavras indispensáveis na prática da dita cuja da tal da educação. Três palavras que a educação brasileira ignora olimpicamente. Isso mesmo. Se há algo que é uma constante no incoerente sistema educacional brasileiro é a inconsequência dos atos e malfeitos infantis e juvenis.
(v) Num país onde os infantes ficam, em média, onze anos em instituições de ensino e, ao final desse período, a maioria delas acaba saindo na condição de analfabeto funcional, é porque isso que se chama nessas terras de sistema educacional, pode ser qualquer coisa, menos algo que tenha como intento educar alguém. Detalhe: cerca 68% da população brasileira é analfabeta funcional. Outra coisa: numa sociedade onde as famílias, quando seus rebentos cometem uma série de erros, ao invés de corrigi-los, procura culpar os professores e possíveis coleguinhas, pode ser qualquer coisa, menos uma família.
(*) Professor, cronista e bebedor de café.
SEM CONFIDÊNCIAS INCONFIDENTES
21/05/2017 - 18:24
Autor: Naor Coelho