Não é novidade que vivemos um caos na área da Segurança Pública, não apenas em Pinhão,mas no Paraná como um todo, isso para não entrar no âmbito nacional da questão. E também não é novidade que, nessas horas, surgem explicações e soluções mágicas, míticas e absurdas para tal problema. Falar que a raiz da questão está na Constituição Federal, nos direitos humanos, e que a solução é simplesmente liberar mais armas para as pessoas me parece um tanto simplista e reducionista.

Aliás, os direitos humanos não servem para proteger bandido, mas sim para evitar abusos contra inocentes. Claro, é o discurso mais fácil para gestores públicos que não resolvem o problema, e o simplificam, para assim fazer o discurso do oba oba que encanta os menos atentos. Mas vamos olhar por um outro lado: No Paraná, há centenas, até milhares de viaturas policiais, de bombeiros e ambulâncias  paradas em oficinas mecânicas, sem manutenção.

Segundo os donos das oficinas, por falta de pagamento, pois o Governo do estado terceirizou a gestão da frota para uma empresa – a JMK, e esta não estaria honrando os compromissos com os empresários. Menos viaturas nas ruas, menos policiamento. Culpa dos direitos humanos ou da Constituição? Não, culpa do governo.

Há em nosso Estado, mais de 10 mil presos condenados cumprindo penas em delegacias, cadeias que deveriam servir apenas para os presos temporários e sem condenação. Faltam presídios, e os que existem, estão lotados e com pouco efetivo de agentes penitenciários. E daí? E daí que os Policiais Civis, que deveriam estar investigando crimes, tocando os inquéritos, fazendo diligências, ficam cuidando de carceragens, evitando fugas, “enxugando gelo”. Menos investigações, menos inteligência policial, manos solução de crimes. Culpa dos direitos humanos e da Constituição? Não,

culpa do governo. E ainda há o sucateamento das polícias Civil e Militar no estado: Falta de efetivo, viaturas estragadas, salários defasados e coletes balísticos vencidos são apenas alguns dos inúmeros problemas das corporações. Policiamento precisa de gente, de viaturas, de armas, de equipamentos, de treinamento, de apoio. Culpa de quem? Não dos direitos humanos nem da Constituição, mas do Governo.

E quando a Polícia faz blitz para verificar carros, motos, documentos pessoais, revistas, verificações em locais determinados, muitas pessoas se voltam contra essas ações. Mas segurança começa sim por verificar carros e motos, pois criminosos utilizam veículos normalmente com restrições. E a Polícia só vai saber verificando. Revistas são sim importantes, pois os policiais não possuem bola de cristal para adivinhar quem está ou não armado.

Consulta de documentos precisam ser feitas, pois quem tem mandado de prisão, essa informação vai ser percebida. Não esqueçamos que muitas pessoas compram carros e motos “pizera”, objetos usados sem comprovação de origem, e até notas falsas anunciadas abertamente nas redes sociais, estimulando crimes. Muita gente “não quer se comprometer”, e se cala diante de acontecimentos que poderiam ser relatados e levariam bandidos para as garras da lei. Com tudo isso, eu creio que podemos mudar nosso olhar. Não é pisando na Constituição, nos direitos das pessoas, enchendo mais o mundo de armas que vamos resolver alguma coisa. Essas são ideias de quem quer achar uma saída fácil para um problema que não é fácil de ser resolvido.

Devemos sim entender que pagamos impostos, e que eles devem ser usados para construir presídios, equipar e armar nossas forças policiais, e dar condições de trabalho às mesmas. Sem investimento público, gestão, e vontade, nada vai se resolver. E sem esquecer da necessidade de investimentos em educação, geração de emprego e renda, para que principalmente os jovens tenham uma perspectiva de crescimento, e não sejam presas fáceis para a criminalidade. Soluções chamativas, fáceis, de grande alarde quase sempre são apenas saídas de quem é incompetente o bastante, e sórdido o suficiente para tirar o foco da real razão para que estejamos nessa situação caótica.

José Carlos Correia Filho – professor de História

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