Mentir todo mundo mente.

Nem que seja uma vez ou outra.

“Eu não minto.”

Vai dizer que nunca mentiu na vida?

“Eu não minto.”

Vai dizer que nunca mentiu na vida mesmo?

“Já sim, claro. Mas isso foi há mais de trinta anos. O que vale é que hoje eu não minto mais.”

Conta aí sua mentira.

“Para quê, criatura? Desenterrar história velha para quê?”

Conta aí, não te custa.

“Foi uma besteira, uma vez, minha vó disse que me amava e eu respondi: “Eu também” e na hora aquela vozinha falou assim na minha cabeça: “Larga de ser mentirosa.” Mas aí, era eu já tinha dito. Ficou por isso mesmo.”

Que horror! Você não amava sua avó?

“Isso não vem ao caso, o que vale aqui é que hoje eu não minto mais.”

Eu duvido que se uma amiga te pergunta se está gorda você diz que está.

“Duvida? Duvide não, gato!”

Você fala?

“Não sou super sincera, aliás, estou longe, muito longe disso. Não saio por aí falando o que penso não, mas não me pergunte o que eu acho.”

Se perguntar você fala?

“Falo.”

Jura?

“Ué, a pessoa perguntou. Antes pergunto se ela quer mesmo saber o que penso. Se ela diz que sim,eu aviso que não douro a pílula. Se a pessoa concordar eu falo.”

Não quero nunca perguntar nada pra você.

“Fica tranquilo, eu não falo nada não.”

Só uma curiosidade: Alguém já te perguntou se estava gorda?

“Ai, meu pai! Perguntou.”

E aí?

“Eu disse que estava.”

E aí?

“Aí que eu disse que estava e a amiga dela veio me xingar.”

Mas é claro! Mulher nenhuma no universo quer ouvir que está gorda.

“Mas eu não cheguei nela e disse que ela estava gorda não. Eu estava no meu canto, ela chegou, perguntou e eu falei.”

E quando a verdade é muito inconveniente?

“Aí a gente tem que disfarçar para não ter que mentir.”

Quando vem a pergunta fatídica: Gostou do meu cabelo?

“É triste essa. A resposta de praxe é: “Menina, a única pessoa que tem que gostar do seu cabelo é você”. Afinal, é a sua pessoa que vai carregá-lo para onde for”.

Mas, aí, você tá falando que gostou.

“Eu não! Estou valorizando a escolha que ela fez.”

Você tá fugindo de dar sua opinião.

“Fugindo léguas, mas o que importa aqui é não mentir. Eu falo isso e mudo de assunto. Não minto e não perco a amiga.”

Mas o malabarismo é gigante.

“Demais. Mas dá certo.”

Sempre?

“Sempre.”

Então, tá. Mas eu prefiro não ter que fazer tanto malabarismo. Não me importo de fugir da verdade aqui ou acolá.

“Entendo, mas onde aprendi que a gente deve sempre falar a verdade, não há nenhuma exceção, por isso o rigor.”

Você acredita em tudo que é dito lá?

“Acredito em tudo mesmo, por isso, o malabarismo para cumprir o que lá está.”

Agora, você me fez pensar…

“Que bom! Era essa ideia, porque lá não há exceções!”

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

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