Ao lado da escada que faz com que se suba sem qualquer esforço, está a imóvel.

A primeira, com seu ritmo próprio, faz com que aquele que dela se serve chegue lá em cima ou cá embaixo no ritmo que foi programada.

Não há como acelerar ou diminuir o esforço da máquina.

Ela segue em ritmo pré-determinado.

Quem a usa não quer suar ou fazer esforço, quer simplesmente chegar sem que o coração acelere.

Em nome disso, entrega à máquina seu poder de escolha da velocidade, deixa que ela decida.

E sobe no primeiro degrau que surge à sua frente e, assim, desliza confortavelmente rumo ao seu destino.

Gasta o tempo que a máquina estava programada para gastar.

Só então, quando é expulso da escada, reassume o andamento da própria vida.

Segue novamente em velocidade particular.

“Estou precisando tanto emagrecer. Acontece que não tenho tempo de fazer exercícios.”

– Por que não abandona a escada rolante e o elevador?

O fora de forma em questão arregala os olhos:

“Mas aí vou suar, ficar cansado, chegar aos lugares pingando.”

– Mas aí você vai emagrecer. Não há outro jeito de perder peso, a não ser suando.

Ficou pensativo.

Continuou frequentando a escada que rola e o elevador.

Não é fácil mesmo abandonar aqueles que fazem o serviço pela gente.

Afinal, eles são mágicos!

Na primeira não é preciso apertar nada, esperar nada. É só subir e ficar olhando em volta, ela faz tudo.

No segundo, basta apertar um botão e esperar.

Como por um passe de mágicas, abre-se uma porta.

Lá no fundo, um espelho onde se pode observar a própria silhueta.

Escolhe-se o andar que deseja ir e as portas se fecham.

A caixa espelhada vai até o destino escolhido em questão de segundos.

Por que motivo, razão ou circunstância deixar de andar nessa “caixa mágica” que te conduz até lá em cima no último e mais alto dos andares ou até o último subsolo onde moram somente as máquinas, sem qualquer esforço?

Para que ficar procurando as escadas escondidas atrás de portas corta fogo?

Para que subir carregada de coisas se a caixa mágica leva e traz tudo sem nada dizer?

Não tenho como negar, poder dar o controle do meu tempo à escada que vai em seu próprio ritmo e subir e descer ao bel- prazer da caixa mágica é algo extremamente tentador.

E se a maioria o faz, por que eu também não posso fazê-lo?

– Pode sim.

“Posso?”

– Pode.

“Só não pode reclamar.”

– Do quê?

“De não ter tempo de fazer exercícios. Afinal, cada vez que entra na “caixa mágica” ou na escada que sobe sozinha, está deixando uma série de exercícios pra depois.”

-Verdade…

Disse distraidamente enquanto entrava no elevador.

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

 

 

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