A irritação talvez seja inerente ao ser humano.

Acredito em que todas as pessoas, até mesmo as mais calmas e controladas, em algum momento de suas vidas, tenham sentido irritação plena e verdadeira.

Quando digo “plena e verdadeira”, parece que é algo bom.

Mas não é.

Nunca foi.

A irritação tira do prumo.

Leva a fazer e dizer coisas que não estavam no script.

Ela faz com que o coração acelere e o que não tinha a menor importância seja supervalorizado.

E, quando ela se vai e tudo volta ao normal, chega a ser ridículo de se ver:

“Fiquei irritado com isso? Não acredito! Como pude?”

A irritação, como tudo na vida, tem os gatilhos que a disparam.

Tal como o lago que está quietinho, sem qualquer onda ou movimento e sem ter nem pra que cai lá bem no meio uma pedrinha minúscula e insignificante.

Quando isso acontece, todo ele se mexe e remexe. E, aí, não tem como, foi-se a calma, em definitivo.

Gatilhos.

Pessoas podem ocupar com maestria essa posição.

Podem disparar a irritação de maneira eficiente e devastadora na vida do ser irritável.

Porque ela sempre está ali.

Quem é tem a irritação como companheira e, por esse motivo, a qualquer momento, pode irritar-se profundamente.

Por isso, faz-se necessário eliminar os gatilhos que disparam o destempero.

No caso das pessoas ou situações serem os iniciadores do processo, tire de suas mãos esse poder.

Elimine assim o gatilho.

Falo como se fácil fosse.

Sei que não é.

Mas tente.

A criatura irrita e vai embora.

Vai cuidar da própria vida como se nada tivesse acontecido.

Às vezes, para ela realmente nada aconteceu, porque nem viu, nem ficou sabendo que irritou.

Já o pobre irritado fica subindo parede, morrendo sozinho.

Alguns, mesmo mortalmente irritados, não falam nada.

Sofrem prestando atenção para não transparecer nada.

Calados.

Quando não têm com quem falar, ainda ficam vigiando a própria expressão para não mostrar de forma alguma o que se passa na cachola.

Após amarga e dificultosa digestão seguem a vida.

Mas as marcas…

Certeza de que o irritado fica com alguma marca em algum lugar da alma.

Não se pode sair ileso a isso.

Porque, na hora da raiva, a irritação rebuliça por dentro enquanto a casca permanece intacta, faz-se um esforço muito grande para não deixar que toda ela saia pelos poros, boca, músculos…

E segurar tudo isso deve ter algum efeito.

Nem que seja em longo prazo.

Pobre criatura que se deixa irritar.

Sofre sozinha e calada.

Quando resolve falar, está com as coisas há tanto guardadas, seguras, enroladas e abafadas que sai tudo atropelado, atropelando, arrastando, devastando.

Sai mais do que devia.

Aí, depois de que tudo feito rio revolto se vai, muitas vezes, a criatura tem que voltar e se retratar.

Por isso, para que o depois não ocorra, é melhor calar.

Melhor mesmo é não se irritar.

Releve.

Relaxe.

Sublime.

Não escute.

Sorria.

E não se irrite!

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.wordpress.com

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