Elis Carraro – jornalista do Fatos do Iguaçu

O objetivo é levar mulheres e homens a pensar sobre as causas e conseqüências sobre a violência contra a mulher

A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) é a principal legislação brasileira para enfrentar a violência contra a mulher. A norma é reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência de gênero. Além da Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 2015, colocou a morte de mulheres no rol de crimes hediondos e diminuiu a tolerância nesses casos.

Para tentar conscientizar as mulheres e a população de uma forma geral, o  Fatos do Iguaçu, em parceria com o NUMAPE, (Núcleo Maria da Penha), da Unicentro, o CREAS – Pinhão, o grupo as Margaridas, a  Secretaria Municipal de Assistência Social e o Sindicato Rural Patronal, promovem na próxima quarta-feira, dia 23, a Mesa de Discussão: “Maria da Penha, a mulher, a violência e encaminhamentos” sobre violência doméstica, que será realizada às 18:30h no auditório do Sindicato Rural Patronal.

O que poucos sabem é que a violência doméstica vai muito além da agressão física ou do estupro.  A Lei Maria da Penha classifica os tipos de abuso contra a mulher nas seguintes categorias: violência patrimonial, violência sexual, violência física, violência moral e violência psicológica.

TIPOS DE AGRESSÃO

Agressões como humilhação, desvalorização moral ou deboche público em relação à mulher constam como tipos de violência emocional. Assim como o fato de tirar a liberdade de crença: fazer a mulher achar que está ficando louca; controlar e oprimir a mulher; expor a vida íntima; atirar objetos, sacudir e apertar os braços; forçar atos sexuais desconfortáveis; impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la a abortar; controlar o dinheiro ou reter documentos; ou quebrar objetos da mulher.

ATENDIMENTOS E SUPORTE

A psicóloga do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) de Pinhão, Jolly Danúbia de Oliveira, conta que atualmente há apenas uma mulher que é atendida pelo CREAS, e isso é alarmante. Essa situação ocorre muitas vezes porque as vítimas têm medo de se expor, de buscar ajuda, por achar que podem sofrer represálias por parte de seus cônjuges. É uma situação complicada porque não somos senhores da vida dessas mulheres, então se elas querem voltar com o parceiro, não podemos impedir porque não sabemos qual a realidade e os motivos que levam a isso, mas se ela nos procura, todo o suporte e assistência e ajuda, ela recebe de nós. O que não existe justificativa é para a situação de violência, não para o retorno”, afirma.

A psicóloga ainda explica que após a primeira denúncia a mulher passa por um ciclo com a seguinte trajetória: conciliação – lua de mel- e nova agressão – rompimento e depois o ciclo se retorna. Segundo Jolly, o índice de violência contra a mulher em Pinhão é alto e isso acontece pelos moldes da sociedade ainda estar enraizada nos moldes machistas, e também tem outro fator preponderante, o alcoolismo nos homens. “Tem muitos casos em que a esposa e os filhos reconhecem o homem como bom pai e esposo, mas quando ele bebe, a violência atinge de forma gradual a família, nesses casos é necessário um acompanhamento com o casal, porque mesmo que o agressor nâo fique mais com a vítima, ele pode se relacionar com outras pessoas e ainda assim continuar agredindo”, enfatiza.

Outro fator interessante apontado pela psicóloga é que de nenhuma forma a mulher que denuncia o agressor fique desamparada, se for necessária a ajuda da polícia militar, há uma parceria entre os órgãos para ajudar na retirada da vítima de casa e também de seus bens, e se acaso a mulher não tiver onde ficar, ela também é encaminhada a alguns locais provisórios até que possa encontrar outro local para ficar.

INICIATIVAS DE PREVENÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO

Com essa ação da Mesa de Discussão, esperamos de fato que haja uma maior conscientização em relação a esse problema grave que é a violência que está presente nos dias de hoje e causa um alto índice de feminicídios. “É importante perceber os pequenos sinais, a violência começa mascarada, ninguém começa a namorar xingando alguém, tudo é doce, suave, sedutor, mas, com o passar do tempo, algumas atitudes denotam o relacionamento abusivo, por exemplo, começa com uma frase do tipo: “Ah, mas eu fiz isso porque você me irritou, você sabe que eu não gosto disso ou daquilo” ou ainda, “Ah, tem certeza que você vai usar isso”? ou ainda “Eu estava nervoso, puxei seu braço sem pensar”, fique atenta a essas frases porque tudo começa silenciosamente, e a vítima só consegue perceber o relacionamento abusivo que, consequentemente, gera a agressão quando ela sai desse relacionamento, e sair dele é um desafio”, diz.

PALESTRANTES

Na mesa de discussão estará a professora doutora da Unicentro, Ariane Pereira, a psicóloga July Danubia de Oliveira, com formação em pericia forense que atua no Creas de Pinhão, o delegado dr. Rodrigo Cruz dos Santos, que atua no município  e o promotor de justiça Diogo Araujo de Lima da comarca de Pinhão. Eles estarão falando sobre a violência e a forma que se pode denunciar, lutar contra essa violência tão comum nos lares pinhãoenses. O convite é aberto a todos os que se sentirem tocados e com interesse em compreender essa violência e os mecanismos de defensa contra a mesma.

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