Parado ali, esperava quem o levaria para as atividades do dia.

Foi quando a viu, olhando para cima, procurando sabe-se lá o quê.

Ele se aproximou, puxou papo e começou a olhar para cima também.

Juntos passaram a procurar qual passarinho estava cantando.

Acharam um, depois o outro.

Quem o levaria chegou.

Quem a levaria também.

Foram um para cada lado.

O dia.

A noite.

Outro dia e a procura em dupla pelos pássaros cantores recomeçou.

Recomeçou também no outro dia e no outro, depois, no outro também.

Até que Ela acrescentou um novo número aos seus contatos.

Deu um toque.

Ele também.

Agora não era mais preciso esperar o dia começar para se falarem.

Mensagens iam e vinham na velocidade da luz.

Enquanto havia sol, depois que a lua chegava, todo o tempo, o tempo todo.

Não se viam só pela manhã, não se falavam só pelo trocador de mensagens.

Saídas, passeios, visitas a pássaros em outros lugares.

Eles viram a chance de que uma parceria fosse firmada.

Viram todas as possibilidades que tinham de fazer isso e aquilo juntos.

Pensaram, estudaram, ponderaram todos os pontos, estabeleceram regras e acordos mútuos, discutiram e, quando chegaram a um consenso, enfim, firmaram a parceria tão esperada.

Depois que isso aconteceu, o céu ficou de brigadeiro.

Eram pássaros cantando para todos os lados e os dois felizes, felizes.

Sorrisos, gargalhadas, grandes vitórias, pequenas conquistas.

Tudo às mil maravilhas.

Um mais feliz que o outro, cada um cumprindo sua parte no que fora previamente acordado, sendo o alicerce Ele dela, Ela dele.

Dias vão, noites vêm e, depois de muitas idas e vindas…

Uma pequena quebra aqui.

Um trincado.

Rachadura.

Deixa de cumprir um pedaço aqui, outro ali e mais outro acolá.

Devagar, quase sem se perceber, os acordos foram sendo discretamente rompidos.

Tão mansamente que eles nem se deram conta do que na verdade estava acontecendo.

Um pouco aqui, outro ali e mais outro acolá.

Até que um dia, não ouviam mais juntos os pássaros cantarem, um nem sequer sabia o que o outro estava fazendo quando o dia virava noite, quando a noite voltava a ser dia.

O céu, antes de brigadeiro, agora não tinha qualquer condição de voo.

Tudo mudara.

Um dia sentaram, conversaram e resolveram mais uma vez ir cada um para o lado que bem escolhesse.

Mas e tudo que haviam construído?

Todos os sonhos, a realidade da parceria?

Não mais existiria?

Nunca deixaria de existir.

Mudaria de formato.

Não havia como apagar tudo que acontecera.

Não tinha como deixar de ser um apoio, Ele dela, Ela dele.

Por toda beleza que ouviram juntos os pássaros cantarem, seriam para sempre de alguma forma, Ele dela, Ela dele.

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

 

 

 

 

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