José Carlos Correia Filho*

Tenho lido as obras e principalmente assistido a alguns vídeos do professor Mario Sergio Cortella, filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário. Meu interesse, obviamente recai sobre as falas do ilustre professor quanto à educação, os problemas e dificuldades em ser professor, o comportamento dos jovens na atualidade e a atuação das famílias no contexto do enfrentamento desses problemas. E uma das frases que mais me levou a refletir nesses últimos dias foi a seguinte: “As famílias confundem escolarização com educação. É preciso lembrar que a escolarização é apenas uma parte da educação. Educar é tarefa da família.”.

            Antes de tudo, acho prudente conceituarmos os dois termos principais na fala de Cortella: Educação, segundo uma definição literal, é o ato de educar, de instruir, é polidez, disciplinamento. No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. Escolarização segundo o Dicionário,é a ação de escolarizar, de frequentar o ensino escolar, de ser alvo de algum tipo de aprendizagem.

São conceitos ambíguos, distintos, divergentes, discordantes? Não. E Cortella mesmo não os separa, pois no final de sua frase o autor afirma que a escolarização é uma parte da educação, do processo educativo. Portanto, não basta escolarizar. É necessário educar os indivíduos, de forma ampla, completa, não priorizando apenas o conhecimento historicamente acumulado, aquele dos livros, fórmulas, conceitos, ideias, cálculos. Educar é mais, vai além, e deve possibilitar a convivência em sociedade, a apreensão de regras de ética, a construção de um caráter positivo, de uma atuação cidadã, de um ideal de correção perante as diversas situações da vida como um todo. Disso podemos retirar que educação extrapola os muros das escolas, vai além do tempo escolar de nossa vida, supera os limites do convívio escolar.

E quando começa – ou deveria começar – a educação de um indivíduo? Segundo a professora Jussara de Barros, da Revista Brasil Escola, “a convivência familiar é a maior oportunidade para a criança apreender uma formação baseada nos princípios morais e nas virtudes”. Para a professora, informações sobre tom de voz, esperar a vez, cumprimentar, ser polido nas ações, não usar palavrões, cuidados com a higiene corporal e alimentação também devem ser repassadas às crianças desde cedo, e no seio familiar. Ela conclui dizendo que “é bom lembrar que aquilo que se aprende na infância fica por toda a vida e o que não se aprende quando pequeno fica muito mais difícil de ser aprendido depois. Um erro comum dos pais é permitir que crianças façam tudo o que querem (…)”  e faz um alerta: “eduquem seus filhos ensinando-lhes as regras básicas de educação, de boas maneiras e de boa convivência, pois a vida exige esses conceitos e quem não os tem encontra maiores dificuldades no meio social.”

Mas o que temos visto hoje em dia? Será que todos os papais e mamães, e outros membros das famílias têm se preocupado com essa questão, estão dando aos pequeninos a educação que estes deveriam receber em casa? Como estamos criando nossos herdeiros, com permissividade excessiva, ou ensinando-lhes os limites de uma vida prudente, cortês, civil, honrada? Essa parece ser a chave para o entendimento de muitas dificuldades e fracassos observados na vida escolar hoje em dia.

Trazendo essa questão para o debate “educação x escolarização”, vamos nos fazer alguns questionamentos: qual tem sido um dos principais problemas, se não o principal problema relatado dentro das escolas, nas salas de aula, nos debates sobre educação escolar nos dias atuais? Justamente a indisciplina, em conjunção com: falta de vontade de estudar, o desinteresse dos alunos, o desrespeito para com os professores. Isso para não citar a violência dentro das escolas contra colegas e até contra os mestres, a drogadição, o alcoolismo, e o cometimento de pequenos (e grandes) delitos por alguns dos jovens que ocupam os bancos escolares. Seria esse um problema gestado na própria escola? Será que a razão de tantos episódios horrendos de desrespeito e violência dentro das escolas estaria apenas dentro dela mesmo, intramuros nos pátios escolares? Parece-me que não.

Segundo um dos grandes estudiosos brasileiros da indisciplina, o professor Celso dos Santos Vasconcellos, “… muitas das vezes, a família não Educa, não dá referências básicas e transfere para a escola esta tarefa …” Como é que um professor, uma professora vai conseguir o respeito, a atenção de uma criança ou adolescente que não vem de casa com essa noção? Tudo começa no núcleo familiar. Os valores que precisamos carregar para exercer a cidadania são adquiridos no seio da família. É dever da família transmitir valores tais como: respeito, ética, humildade, dignidade, deveres etc. A ausência desses valores faz emergir o conflito na escola, criando alunos rebeldes, professores impotentes, educação fracassada.

Os professores e a escola não possuem culpa nenhuma? Claro que sim! Muitos deixam a desejar no que tange ao domínio do conteúdo, domínio de turma, ao se colocar perante os alunos como alguém que deve ser respeitado não por ser superior, maior, mas por ser um ser humano e que ali está para cumprir uma função educativa. Muito até transferem essa missão para pedagogos e diretores, no que Vasconcellos chama de “síndrome do encaminhamento”: No entanto, o aluno queria sentir a firmeza do professor. E como não sentiu, o que vai acontecer? Muito provavelmente, esse aluno vai, de novo, ter um outro ato indisciplinar para sentir essa segurança. Se de novo o professor o encaminhar, entra-se num ciclo vicioso… afirma o professor Vasconcellos. Mas é inegável que seria bastante facilitada a missão de ensinar se os jovens já trouxessem do seio familiar uma educação firme, formativa, que lhe garantisse claramente a distinção do certo e errado. Nem vou entrar aqui no debate quanto a punição de jovens que transgridem regras, pois creio firmemente que só de precisa punir quem não se educa. Não precisamos de meios que gerem medo nos jovens, mas de uma educação “desde o berço” que lhes dê limites, regras, caráter.

Enfim, perante estas colocações, creio ter expressado um preocupação perene entre os sentimentos de um professor: precisamos salvar a educação, no sentido amplo da palavra, dos nossos jovens. Não apenas a educação escolar, mas a familiar. Como diria um colega de profissão, “escola não é depósito de filho”. Não basta matricular um filho na escola e aparecer por lá nos finais de bimestres ver o resultado, reclamar disso ou daquilo. É preciso mais empenho das famílias em educá-los em casa, estar próximas e eles, e colocar o “NÃO”, como determinação final em certas atitudes. Dar exemplos bons, e colocar limites à suas atitudes. Isto fará toda a diferença no adulto de amanhã. Eles querem isso, muitas vezes vejo alunos meus gritando para que alguém lhes imponha limites, mas a resposta que esperam não vem, e eles avançam nas más atitudes cada vez mais, até que seus atos fogem ao controle, e o resultado é desastroso.

Papais e mamães: estamos às portas de um novo ano letivo. Façamos uma educação melhor para nossas crianças e adolescentes. Da parte da escola e principalmente em casa. Eduquem seus filhos, para nós, professores e professoras possamos escolarizá-los de maneira satisfatória. Não permitam que seus filhos ultrapassem os limites do que é correto, mesmo nas pequenas coisas, e eles não vão ser para vocês motivo de vergonha, de decepção, de dor, de preocupação excessiva. Quando família e escola educam com os mesmos critérios, as diferenças entre os dois ambientes se reduzem, e quem ganha é a criança”. (Andrea C. Ramal – Doutora em Educação).

José Carlos Correia Filho – professor de História.

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