Porque tudo ao mesmo tempo agora, sem eira nem beira

Prof. Dr. Manuel Moreira da Silva

O trotskista George Novack escreveu certa vez a respeito da assim chamada lei do desenvolvimento desigual e combinado da sociedade. Essa lei, por mais estranha que pareça, de fato se mostra operante, aqui e aqui, neste grandioso país ao inferno aberto; em um único dia fomos bombardeados de diversas maneiras. Ser brasileiro é para os fortes!

Início do dia 29 de novembro no Brasil, últimas horas do dia 28 na Colômbia. Avião de companhia aérea boliviana que levava a simpática Chape para o jogo mais importante de sua história cai na Colômbia e dizima a equipe, além de cronistas esportivos de pelo menos dois órgãos de imprensa. A companhia, cujo único avião, de 17 anos, caíra em função de “falhas técnicas”, tivera pedido negado pela ANACpara um voo direto de Guarulhos a Medellín; mas porque a Chape contratara justamente a Lamia Airlines? E por que a mantivera, mesmo depois do veto da ANAC?

Durante o dia, a Câmara de Deputados discute e termina por votar o esperado pacote anticorrupção, sem anistia aos políticos criminosos. Isso para logo depois, já na madrugada do dia 30 de novembro, mudar o famigerado pacote e aprovar a punição de juízes e do Ministério Público. Esse deveria defender o regime democrático, mas, de certo modo, terminou por colaborar com os setores ora no poder e agora cujos procuradores são postos na berlinda justamente por aqueles a quem ajudaram da destituição do governo anterior. Já há relatos de Procurador que investira no Minha Casa Minha Vida…

Ainda no dia 29 de novembro, o Senado Federal aprova a PEC 55 em primeiro turno e abre caminho ao congelamento dos investimentos em saúde e educação por 20 anos. Não obstante, à tarde, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, elogia a classe política brasileira, afirmando sua excelência. Pari passu, diante do Congresso Nacional, a Polícia Militar (PM) reprime violentamente os manifestantes contrários à PEC 55. Meses atrás,a PM tirara fotografias com manifestantes que reivindicavam intervenção militar no país;estes cujos atos eram amplamente divulgados pela grande imprensa. As manifestações de agora parecem merecer somente notas pejorativas.

Por que nos elevamos tão alto e caímos tão rápido? Se há de fato uma ordem necessária sob o caos e as contradições do desenvolvimento perceptível, como acessá-la? Não seria ela apenas as imagens que os meios de comunicação de massa nos impõem? Aceitamos isso de bom grado?

Prof. Dr. Manuel Moreira da Silva

Departamento de Filosofia, UNICENTRO

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